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Homeland – Terceira Temporada: a hora de parar

Por Maurício Angelo

Em suas três temporadas, Homeland elevou a trama contemporânea e adulta no melhor thriller político e psicológico da TV, temperada por sequências de ação e os inevitáveis pitadas de amor, amizade e relações familiares. Tudo bem construído, bem amarrado e com poder suficiente para cada episódio funcionar como um estopim por conta própria.

O reconhecimento veio, através da crítica, dos prêmios e do público. O quinteto de atores principais: Claire Danes, Damien Lewis, Morena Baccarin, Mandy Patikin e Rupert Friend funcioram muito bem, escoltados por ótimos coadjuvantes. A primeira temporada é fantástica, estabelecendo as bases para complexa personalidade de Brody, as afetações de Carrie e o desenrolar político e religioso do negócio.

A segunda temporada estica bem a corda, tomando várias “liberdades” de roteiro pra lá de questionáveis numa trama em que a coerência (no máximo que dá pra esperar coerência de um programa de TV) é importante. Acabando de forma impactante, deixou a terceira temporada – que terminou em dezembro na TV americana – com escolhas decisivas.

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Aviso: spoilers a partir daqui

Com Brody isolado na Venezuela (!?), numa situação que vai colocá-lo novamente dentro de uma solitária, como no Iraque, e Carrie & Saul & Cia dedicados a encontrar os responsáveis pelo bombardeio na CIA, os primeiros episódios levam ao extremo aquela história de “internal affairs”, abusando da situação de Carrie (como sempre) para criar uma tensão em que você nunca sabe o que é ou não verdade, quem está traindo quem e por aí afora. Homeland, na verdade, é uma grande abordagem sobre o comportamento de Carrie e quanto a sua ~força gravitacional~ impacta os outros personagens ao redor dela. Na terceira temporada, o foco é principalmente em Carrie. Brody, inclusive, passa metade da temporada sem sequer aparecer.

Resgatando Brody do inferno em que se encontrava e com um novo “substituto” de Abu Nazir – Majid Javadi – Carrie e Saul se veem entre seus próprios problemas pessoais – mentais, conjugais, de influência e alcance – com a presença decisiva do senador Andrew Lockhart na terceira temporada, funcionando como “adversário” de Saul. Por vezes, de maneira bem maniqueísta, diga-se.

Com o improvável envio de Brody como agente duplo para o Oriente Médio -e seu brutal processo de desintoxicação – Homeland caminha de volta para a primeira temporada ao pôr em xeque quais seriam as atitudes de Brody e de que lado ele estaria, elevando a tensão até o último minuto. Com a fracassada operação de resgate – e a interferência direta de Lockhart, que prefere entregar Brody para as autoridades locais – ele é finalmente executado na forca na frente da multidão com a presença de Carrie. Um fim aceitável para tudo que Brody viveu até aqui. Uma maneira corajosa de encerrar três temporadas de uma série que teve justamente a premissa de explorar a psicologia e as decisões de Brody.

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Passada a tempestade, com a casa em ordem, Saul ganhando grana na iniciativa privada e Carrie ganhando cargo de chefia no Oriente Médio, Brody Morto, Javadi como agente infiltrado, Homeland aparou (quase) todas as pontas e encontraria um fim digno para uma série que elevou o nível da TV mundial nos últimos tempos, ao lado de todas aquelas que sabemos bem (mais sobre isso aqui, no texto sobre Breaking Bad).

Incompreensivelmente (para manter a qualidade, mas não no aspecto financeiro, obviamente) a série foi renovada para uma quarta temporada. Novamente, os roteiristas precisarão usar muita pirotecnia e malabarismos para manter algo minimamente interessante, o que tem tudo para caminhar para além do aceitável. Seria a hora perfeita para parar. Outra qualidade rara que as séries em geral enfrentam: saber a hora de encerrar uma caminhada de sucesso – e lucros impressionantes – para preservar a trama até ali. Tudo indica que Homeland perdeu a oportunidade. Veremos.

Jornalista investigativo, crítico e escritor. Publico sobre música e cultura desde 2003. Fundei a Movin' Up em 2008. Escrevi 3 livros de contos, crônicas e poemas. Venci o Prêmio de Excelência Jornalística (2019) da Sociedade Interamericana de Imprensa na categoria “Opinião” com ensaio sobre Roger Waters e o "duplipensar brasileiro" na Movin' Up.

Published in TV/Séries/Web