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A Budos Band se reinventa com “Burnt Offering”, um dos melhores do ano

O que os arranjos intricados do p-funk do Funkadelic e os metais e a percussão alucinantes de Fela Kuti tem a ver com o proto-metal arrastado, sombrio e pesado do Atomic Rooster e Blue Oyster Cult, o psychedelic rock do Iron Butterfly e 13th Floor Elevators ou mesmo o cânone do Black Sabbath?

A resposta está no quarto disco da Budos Band: “Burnt Offering”. O grupo de Nova York construiu uma belíssima carreira com os álbuns anteriores investindo num jazz funk / afrobeat / soul finíssimo ou simplesmente “afro-soul” segundo a definição dos mesmos.

httpv://www.youtube.com/watch?v=WrYODOHx7DY

A nova aposta é clara desde o nome: enquanto os três primeiros foram apenas numerados, o lançamento atual tem nome tipicamente metal e capa idem. Algum desavisado pode inclusive perfeitamente confundir esse disco com o clássico do Iced Earth (de mesmo nome, lançado em 95).

A trinca de abertura com “Into The Fog” – espetacular – “The Sticks” e “Aphasia” mostra a base de baixo/guitarra/bateria, apostando em timbres mais densos, soturnos e gordurosos dialogando intensamente com a classe de metais (trompete, saxofone), o órgão e a percussão.

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Os 4 anos de produção, feita pela primeira vez pela própria banda (destaque do catálogo da Daptone Records, a mesma de Sharon Jones e Charles Bradley), evidenciam a jornada interna do grupo, burilando, cortando, aperfeiçoando, experimentando. Sem excessos e sem composições enfiadas apenas para encher disco, os 41 minutos de “Burnt Offering” formam a medida da grandiosidade, pretensão e qualidade da banda em entregar uma mudança significativa na sua história, ainda que as influências daqui sempre estivessem presentes com maior ou menor intensidade nos outros registros.

Da faixa título, passando por “Black Hills”, “Magus Mountain”, “Tomahawk” e o final certeiro de “Turn And Burn”, a Budos Band entrega a combinação perfeita de soul, jazz, psicodelia e metal.

USA - Budos Band - Capitol Hill Block Party

“Burnt Offering” é um dos melhores discos do ano de um grupo que sem dúvida oferece uma das experiências mais interessantes ao vivo, hoje. Que venham logo para o Brasil.

 

Jornalista investigativo, crítico e escritor. Publico sobre música e cultura desde 2003. Fundei a Movin' Up em 2008. Escrevi 3 livros de contos, crônicas e poemas. Venci o Prêmio de Excelência Jornalística (2019) da Sociedade Interamericana de Imprensa na categoria “Opinião” com ensaio sobre Roger Waters e o "duplipensar brasileiro" na Movin' Up.

Published in Reviews de Cds