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Ghost Bath e o lapidado blackgaze de “Moonlover”

A imagem demente aí acima é do artista Luiz Gonzalez Palma, intitulada “La Luna”, criada em 1989. Hoje, serve de capa para o novíssimo disco do Ghost Bath, “Moonlover”, com pinta de ser um dos maiores hypes do metal em 2015, como o “Sunbather” do Deafheaven foi em 2013, lembram? O Ghost Bath, que venderam a ideia de serem chineses mas na realidade moram em North Dakota, nos Estados Unidos, tem muita semelhança com o “blackgaze”, gênero que o Deafheaven tornou-se um dos “baluartes”, ao lado do Alcest e cia, naturalmente.

Tudo muito entre aspas porque essa mistura de black metal, shoegaze e post-rock, grosso modo, já começa a dar sinais de cansaço e na verdade é uma tentativa válida de recuperar a beleza intrínseca do melhor black metal produzido na virada dos anos 80/90, na pegada Bathory, Burzum e cia com uns temperos diferentes. No entanto, a qualidade geral desse disco do Ghost Bath – apenas o segundo da carreira – impressiona. “Golden Number” e “Happyhouse”, cada uma com seus 9 minutos de duração, são um testamento das intenções do grupo, muito além do puro blast beat, mas adicionando toneladas de belíssimas melodias e atmosferas bem trabalhadas, com texturas acima da média, variações de tempo e harmonias.

“Beneath the Shade Three” e “The Silver Flower Pt. 1 e Pt. 2” são dignas de um Quorthon, apostando num “crescendo” constante, equilibrando o caos sonoro com o “atmospheric” que eles tanto prezam. Não é nada que já não ouvimos antes: além do blackgaze, há muito de Agalloch e Summoning também, nada no mesmo nível, mas sem dúvida esforçados.

Tirando a tentativa estúpida de criar hype com a suposta origem “chinesa” do grupo, “Moonlover” é um disco acima da média de uma banda iniciante. Mais do que se poderia esperar.

Jornalista investigativo, crítico e escritor. Publico sobre música e cultura desde 2003. Fundei a Movin' Up em 2008. Escrevi 3 livros de contos, crônicas e poemas. Venci o Prêmio de Excelência Jornalística (2019) da Sociedade Interamericana de Imprensa na categoria “Opinião” com ensaio sobre Roger Waters e o "duplipensar brasileiro" na Movin' Up.

Published in Reviews de Cds