O que dizer de alguém que é filha de pai cubano e mãe brasileira, foi criadora de búfalos aos 17 anos, formada em direito (e canto lírico), ex-dona de bar, integrante de banda de jazz, outra de rock e autora de um dos melhores discos da última década no Brasil?
Marina De La Riva é tudo isto e muito mais. “La Mariposa” é a perfeita síntese entre a fundamental tradição da música latina – tradicional, boleros, tangos, fusão de ritmos diversos de épocas distintas – e da música brasileira. Música latina e brasileira, diga-se, duas das mais ricas escolas sonoras do mundo. Logo, difícil imaginar algo menos que “muito bom” saindo disto.
É quando a genética, a influência direta e a criação encontram o talento, o estudo e a dedicação: além da voz, extremamente bem trabalhada e capaz de ir a todos os tons necessários, Marina tem pleno domínio do palco. Empatia, presença – no sentido mais amplo do termo – e total entrosamento com a banda, musical e de sensibilidade. Alma. Algo importante, comumente esquecido.
httpv://www.youtube.com/watch?v=iRsIKLlkvDA
O repertório apresentado em Brasília na noite do último dia 12 de junho vai desde boa parte das músicas do disco de estreia, de 2007, incluindo “standards” como “Tin Tin Deo” (Chano Pozo / Dizzy Gillespie), “Te Amaré Y Después” (Silvio Rodriguez) e “Mariposa” (Ernesto Lecuona) até “Adeus, Maria Fulô” (Sivuca) e “Ta-hi! (Pra Você Gostar de Mim”), de Joubert de Carvalho, famosa na voz de Carmem Miranda.
Teve espaço ainda para curiosas – e ótimas – versões de “Advinha o Quê”, do Lulu Santos e “Carinhoso”, de Pixinguinha, cantada “a capella” por ela e todo o público, sintomática na noite dos namorados. Com certa candura e ao mesmo tempo fazendo jus ao “caliente” latino, Marina passeia pelo melancólico dos boleros, pelo fogo do baião, pelo apelo pop e por muito dos tons que fizeram a história da música deste lado do mundo.
Difícil imaginar show melhor, mais intimista (e completo). Sem dúvida uma das maiores intérpretes da vasta “nova geração” de cantoras brasileiras atuais. Não perca quando tiver a oportunidade.
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