Primal Scream: “More Light” é o melhor disco desde “XTRMNTR”

O que você faz quando atinge o ápice criativo, do sucesso, reconhecimento, etc? Geralmente o que vem é uma baita de uma ressaca produtiva, aquela má vontade ferrada com o showbizz e o declínio. A maquininha de moer carne do pop não é lá muito surpreendente. Com o Primal Scream, que já tem quase 30 anos de carreira (bom lembrar, o primeiro disco é de 87), não foi diferente: após o auge de “XTRMNTR”, uma das obras chave dessa virada de século, vieram as sobras em “Evil Heat”, o country-rock safado de “Riot City Blues” e a maçaroca de “Beautiful Future”, todos com seus bons momentos, porém fracos no geral.

 E era necessária uma resposta decente para o fiasco de “BF”, o pior trabalho da história da banda. 5 anos de vida depois, “More Light” é a resposta mais do que eficiente. Trata-se de um puta disco de rock psicodélico, não soando como as referências dos anos 60, mas moderno, pesado, com tremenda variações de timbres, harmonias e com punch, muito punch. A banda não voltou para “XTRMNTR”, mas produziu uma versão turbinada de “Screamadelica” no século XXI.

httpv://www.youtube.com/watch?v=JXrBRZ43a-s

“Relativity” é maravilhosa na sua capacidade de resumir a verve da obra nos seus 7 minutos. “Invisible City”, “Goodbye Johnny”, “Sideman” e “Elimination Blues” são 4 pontos altos em sequencia, a prova da grandeza e da polivalência do negócio. “Walking With The Beast” é a balada chapadassa que a gente espera de um Primal Scream entrosado e “It’s Alritght, It’s OK”, finalmente, é um single de respeito como há muito a banda não lançava.

Voltando a trabalhar com David Holmes, um dos produtores de “XTMNTR” e antigo colaborador, Bobby Gillespie tinha a visão clara do que queria aqui, conforme declarou: “I wanted to convey coming out of a dark time and into a good one…We always knew it wasn’t going to be a straight ahead, balls to the wall, high energy rock ‘n’ roll, two guitars, bass, and drum record. It’s sophisticated, layered, cinematic, and orchestral; obviously working with Holmes we were hoping to make a record more in keeping with that vision.”

httpv://www.youtube.com/watch?v=Ty-IJ3qz-GE

É o talento nato em trabalhar com dezenas de influências do passado repaginadas numa pegada mais “moderna” que fez o Primal Scream ser o que é, com a personalidade própria que permeia toda a sua discografia. E aqui ainda temos as participações de luxo de Kevin Shields (no tratado de psicodelia-shoegaze-pop que é “2013”, abaixo, responsável por abrir o disco), Robert Plant (em “Elimination Blues”) e Mark Stewart, além de dezenas de colaboradores que criam uma parede sonora pra lá de rica e acertada. É ótimo ver que “More Light” coloca a banda de volta aos trilhos e que a dupla Gillespie/Andrew Innes finalmente se acertou de novo. Sorte a nossa.

httpv://www.youtube.com/watch?v=bdCraT9_wk4