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Eric Burdon: um monumento histórico em plena forma

Aos 72 anos – e mais de 50 de carreira – Eric Burdon é, reconhecidamente, uma das melhores, mais relevantes e poderosas vozes da história do rock. Do emblemático Animals, na passagem pelo War e na carreira solo, Eric é um desses caras que você quer ter por perto.

“‘Til Your River Runs Dry” chega 07 anos após o ótimo “Soul Of A Man” e crava seu lugar garantido entre as principais obras do ano. Pouca gente canta, compõe e escreve como Eric, que produz mais uma senhora aula de “blues rock” pra fazer lacrimejar senhores de idade e ensinar a molecada como se faz.

“Water” abre o disco lá em cima mostrando que uma letra “eco-ativista” pode dar origem a uma excelente canção. “Wait”, surpresa, é Eric se inspirando no tango para homenagear a esposa. “Old Habits Die Hard” é o blues-rock-uptempo perfeito, de se ouvir nas melhores biroscas de beira de estrada. Melhor que isso, é Eric dialogando com a juventude e “essa coisa toda aí”. Diz ele num faixa-a-faixa para a Rolling Stone:

httpv://www.youtube.com/watch?v=UQJd6Ye1eQM

“The hero emerges from the gas clouds with a red bandana wrapped around his neck and a molotov cocktail in his hand. It’s the spirit of youth that has to be acknowledged. It’s the need for change that drives us to join forces with our brothers and sisters all around the world – but change is slow. This song is dedicated to the people in Egypt and Libya trying to throw off the shackles of all those centuries of brutality. It reminds me of Paris in 1968 when I saw the kids going up against the brutal police force or the L.A. uprising. I went through these experiences and they’re still with me today. The struggle carries on. I wrote this song so I won’t forget and to say, even though I’m older now, I am still out there with you.”

Obviamente, Burdon não tem pretensão de reinventar a roda que ele mesmo ajudou a criar. Tampouco trata-se de um veterano remoendo migalhas do passado ou acomodado no que já fez. “Til Your River Runs Dry” é uma mistura poderosa de tudo que já fez na carreira sim – e com que propriedade o fez – tributo ao seu herói pessoal Bo Diddley (na cortante e suingada “Bo Diddley Special” e na ótima cover de “Before You Accuse Me”, que fecha a bolacha), “In The Ground” e sua irresistível pegada gospel-soul-rock, valorizada nos vocais precisos de Burdon, que consegue dar o tom exato de cada parte. Em “Invitation To The White House” e sua estrutura clássica com paradas e retomadas é Burdon querendo trocar uma ideia com Barack Obama.

 

A produção, a cargo do próprio Eric com Tony Braunagel, consegue valorizar o espaço de cada instrumento – fundamental para a proposta de cada faixa e o uso de piano, metais, saxofone, percussão, backings, etc – sem cair na guerra do volume mas entregando algo quente, fresco e com tempo pra respirar.

 

“Til Your River Runs Dry” é um dos melhores discos de rock do ano de alguém que, com toda sua história, impressiona pela vitalidade e força da voz e a qualidade das composições rasgadas e pessoais que Eric Burdon revela.

Jornalista investigativo, crítico e escritor. Publico sobre música e cultura desde 2003. Fundei a Movin' Up em 2008. Escrevi 3 livros de contos, crônicas e poemas. Venci o Prêmio de Excelência Jornalística (2019) da Sociedade Interamericana de Imprensa na categoria “Opinião” com ensaio sobre Roger Waters e o "duplipensar brasileiro" na Movin' Up.

Published in Reviews de Cds