90% das vezes em que surge um “hype” – ou algo até menor que isso – verifico e me assusto com a nulidade da banda celebrada. Sempre que um nome qualquer aparece do limbo, dentre as 352 mil bandas a cada esquina que a Europa e o Reino Unido tem, fico surpreso com oba-oba generalizado dos coleguinhas críticos, jornalistas, etc. Gente boa, que trabalha na área e/ou que fala e escreve sobre música com alguma competência por aí. Dos mais novos (onde eu estou) até a “semi-velha-guarda”, onde deveria imperar um pouco mais de bom senso, o que vejo é um número sem fim de bandecas que mal saíram das fraldas (literalmente) ou que não tem nada a acrescentar serem elevadas para muito além do limite do razoável.
Penso: não faço parte desse clube. Mentalmente e de postura. É simplesmente inconcebível no meu mundo, na minha visão de música, de vida, jogar pro alto toneladas de confetes sobre cada grupinho incompetente que aparece num lugar infeliz do Reino Unido. O Bombay Bicycle Club (começa pelo nome) aí de cima é o exemplo perfeito. Não só pelo o que a foto ilustra. Vi recentemente o Multishow anunciando essa “atração internacional” no seu prêmio como algo, mmm, no mínimo interessante. Ri copiosamente com o comercial. Que diabo é isso? No twitter, depois, algumas pessoas clamando (clamando!) por um show do BBC (rá) na sua cidade. Qual o nível de discernimento desses seres, não me pergunte. É a turma esperta e bacanuda do “sou alternativo-papai-me-sustenta-e/ou-me-deu-tudo-na-vida”.
Tudo bem que o Multishow queira economizar uma grana e pegar o primeiro nomezinho saído do colegial de representatividade inexistente até no seu bairro que aceite o esquema “pagamos as passagens, uns refrigerantes e um baseadinho”. Daí a querer convencer o público que é uma banda “relevante”, é demais. Prevejo os argumentozinhos hipsters alegando “ah, mas o BBC tocou no Festival tal e tal, e tal revista e tal site disseram isso e aquilo, bla bla bla”. Bom pra eles. Que podem mostrar para as menininhas e menininhos da sua região os recortes e tentar pegar alguém. Convenhamos que ser 1 das milhares de bandas que tocam nos festivais europeus, normalmente com mais de 100 nomes por edição, não é lá grande coisa. Ou ser 1 entre as quase 2 mil bandas apenas do SXSW.
Mas, claro. Tudo que vem de fora é lindo. É superior. Tem um ar de ser “cúl”, diferente, descolado, inteligente. Não consigo mais disfarçar meu nojo desse tipo de comportamento. É um câncer largamente disseminado o oba-oba extremo sobre cada lançamento de bandas boas até, nada além disso. Ou de coisas superestimadas que não dá pra considerar quase como música. Na linha do Bombay, lembro do “Empire Of The Sun”, anunciado pro Planeta Terra. Who? Grande coisa. Outro lixo da praga eletro-pop que explode a cada bueiro de uma cidade com mais de 500 mil habitantes por aí. Lembro também do “Asobi Seksu”, que tocou no Eletronika em BH em 2008, na mesma linha. Sem falar no vomitório de bandas desconhecidas que ganham “destaque” por uma simples busca no google e em 5 minutos qualquer um “acha” e sai tecendo elogios e pagando de entendido. Haja estômago.
httpv://www.youtube.com/watch?v=6naefVOA-rI
Qualquer merda chega aqui com “status”, já sabemos. Qualquer bandinha barata de última categoria chega aqui com ares de atração principal. De nomes inexpressivos até bandas que eu realmente gosto e acho excelentes (como Wilco), passando por hypes bobalhões como Phoenix, Animal Collective, Fleet Foxes, Vampire Weekend, Deerhunter, MGMT, Kasabian, Grizzly Bear, The XX e uma tonelada de outros que surgem ao sabor do ano.
Saiu o último álbum do Black Rebel Motorcycle Club? Neguinho nem ouve e já tasca “melhor do ano”, “foda”, “pode acabar o mundo”, “blablabla”. Até aparecer o próximo “vazamento”. É a ovação pela ovação. Trata-se de elevar o que é novo apenas porque…é novo. De fazer o máximo de barulho e propaganda possível para parecer tão “inteirado” quanto o resto. Não tenho mais saco pra esse tipo de coisa. Não consigo ver nada que preste aí. É muito lixo que tentam enfiar goela (e cabeça) abaixo ao mesmo tempo.
O hipster, que gosta de pensar que é “diferente” e mais inteligente que o resto, consegue ter um comportamento pior que outras trupes, menos deslumbradas, mais críticas, mais “calmas”. Não só no que falei aqui como em muitos outros pontos. Toda “tribo” tem seu modo de se vestir, seus termos, sua maneira de se identificar e criar uma marca, um estigma. Um modo de se portar, pensar e agir compartilhado entre todos. Seu estereótipo – naturalmente ridículo – e clichê. É fazer o igual alegando ser “independente” e “não aceitando” imposição de lugar (ou alguém) nenhum. Lindo. Só mais um paradoxo flagrante.
httpv://www.youtube.com/watch?v=oGY-OkRclnU
Na cena brasileira, ocorre a mesmíssima coisa, claro. É substituir os nomes de lá pelos daqui. Óbvio que tem música ótima nos dois cantos. Música que consegue, também, ir além de ser “só” música. É a exceção, não a regra. Por interesses comerciais, de “maria-vai-com-as-outras” ou o que quer que seja, repetimos exatamente o que vem de fora. Como fazemos em diversas outras áreas. É algo intrínseco ao grupo. Da “natureza” daquela turma de pessoas. Que se sentem bem assim.
Sei que é inútil tentar pedir um pouco de lucidez e tranquilidade nesses casos. De tentar varrer a crítica musical e o jornalismo do oba-oba barato, da ditadura da novidade. Dessa merda em que muitos se atolam até onde podem e se consideram felizes assim. Cadum cadum. Já escrevi sobre aqui num artigo do início do ano. Volto ao tema.
Não se ensina lucidez a ninguém. Não se cria capacidade crítica numa pessoa automaticamente. Da mesma maneira que se empurra uma banda. Só fico preocupado e enojado em ver esse comportamento inaceitável – na minha visão – sendo praticado por tanta gente boa por aí. Perdemos algo muito importante no caminho. Ninguém parece se dar conta. E posso prever as críticas vazias, gratuitas e agressivas que um indie/hipster acéfalo pode tecer ao ler tudo isso.
Dane-se. Cresçam. Não é tão difícil assim.
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