Quando se vai um dos pilares da música brasileira, perdemos um dos eixos de sustentação da nossa cultura. Esse é o caso de Elton Medeiros, 89 anos, que nos deixou e que merece muito mais reconhecimento do que normalmente lhe é prestado.
Somos um país de memória falha, quando não inexistente. Somos um país que costuma cuspir em quem o construiu, literal e metaforicamente. Somos uma nação de canalhas mimados que só reconhece os seus grandes ídolos populares quando isso lhe é imposto à fórceps pelas circunstâncias. Ou somente após a morte, nunca em vida. E por breves fiapos de glória.
Elton Medeiros comprova e subverte todas essas teses.
De grandeza rara e legítimo representante do Brasil que importa, da cultura popular mais terrena e mais sofisticada, da melodia mais cortante e mais precisa, Medeiros é desses que dilacera a mediocridade para nos entregar o sumo do melhor samba que esse país já produziu.
E isso deveria ser suficiente para que o Brasil parasse por alguns dias em luto oficial, em homenagens, em festa.
Cá do nosso canto, fazemos a nossa parte reconhecendo o que esse sambista popular, um dos fundadores da escola Aprendizes de Lucas e de outros blocos e agremiações, nos deu. Ouvindo a sua obra, que permanecerá para sempre como pedra fundamental de um país que não a merece.
Elton Medeiros é onde a canalhice ia para morrer.
Seja como o compositor espetacular que era, sozinho ou ao lado de nomes como Paulinho da Viola, seu parceiro mais constante, a quem estendo boa parte das palavras desse texto, Cartola, Zé Ketti, Hermínio Bello de Carvalho, Nelson Cavaquinho, Paulo César Pinheiro, Nelson Sargento, Eduardo Gudin, Mauro Duarte e tantos outros, Medeiros é um sopro permanente de grandeza.
O que dizer de “Pressentimento”, uma das mais belas canções já escritas na história da humanidade? E de “O Sol Nascerá”, “Vem Mais Devagar”, “Onde a Dor Não Tem Razão”, “Mascarada”, “Peito Vazio”, “Contradição”, “Minha Confissão”, “Avenida Fechada”, “Chove e Não Molha” e mais algumas centenas de composições?
Elton Medeiros é transcendência em forma de samba. Um transe fiado no chão, nas melodias riquíssimas, no ritmo de transição perfeita e inundado de suor e ancestralidade.
São muitos os motivos pelos quais Elton Medeiros viverá para sempre como um dos gigantes que tivemos o privilégio de conviver.
Entre o material disponível na internet, recomendo essa aula magna de samba, um especial do programa “Ensaio”, com Paulinho e “Os Quatro Crioulos”, nada menos que Medeiros, Sargento, Anescarzinho do Salgueiro e Jair do Cavaquinho.
E outra, desse disco essencial ao lado de Candeia, Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito: