Até “What’s Going On”, Marvin Gaye não fugia muito do peso de ser mais um hitmaker da fábrica de dinheiro que era a Motown. Diferenciado, sim. A voz, os arranjos, a interpretação. Os singles acumulados no top 40. Uma década, entre a estreia em “Soulful Moods” e o lançamento daquele que é considerado, com justiça, um dos maiores álbuns de black music de todos os tempos.
Não só a música se transformou neste tempo. A sociedade, em especial, viveu as maiores turbulências imagináveis. Toda a tensão e os conflitos dos anos 60 – guerras, pobreza, drogas, sexo, desemprego, decadência, levante das “minorias”, como negros e homossexuais. “Que Diabos Está Acontecendo?” é a pergunta escancarada no título do trabalho.
Com ele, Gaye deixou de ser “apenas” um hitmaker de sucesso e tornou-se um artista completo, crítico, reverenciado. Capaz de fazer história. A posição nos charts equilibrada com uma música refinada, tocante, imitada por muitos sem metade do brilhantismo. As letras.
Hey Baby, What’cha know good?
I’m just gettin’ back, but you knew I would.
War is hell, when will it end?
When will people start getting’ together again?
Are things really gettin’ better, like the newspaper said?
What else is new my friend, besides what I read?
Can’t find no work, can’t find no job my friend,
Money is tighter than it’s ever been.
Say man, I just dont understand
What’s going on across this land.
Ah, what’s happening brother.
Oh ya, whats happening my man?
O suficiente para a alcunha de “gênio” não soar exagerada. A partir dele, Gaye viveria os melhores anos de sua carreira, enfileirando álbuns clássicos em sequencia. Com os anos 70/início dos 80 a seus pés, ao mesmo tempo em que entrava numa séria dependência de drogas, depressão e vários problemas pessoais, tentando o suicídio diversas vezes, teve uma das mortes mais trágicas da música: assassinado com um tiro pelo próprio pai em 1984.
Gaye deixou obra irretocável e a eterna pergunta sem resposta: “What’s Going On?”
httpv://www.youtube.com/watch?v=Y9KC7uhMY9s