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A consagração de Lebron James

Após entrar na NBA com 18 anos com a estampa de “o escolhido” na testa, 9 temporadas, 3 títulos de MVP, 2 finais perdidas e toneladas de críticas acusando-o de se omitir nos momentos decisivos, de amarelar na hora da definição, Lebron James finalmente conquista seu primeiro título da NBA.

Ao contrário do ano passado, quando chegaram como favoritos e perderam para o Dallas Mavericks por 4 x 2, este ano, surpresa, o Miami Heat era o “underdog” da final. Pelo menos para todos os gatos mestres comentaristas de lá e daqui. Afinal, o Oklahoma City Thunder é mais time, mais jovem, mais atlético e mais uniforme, tem um técnico muito superior em Scott Brooks, defende melhor, tem um Durant que lidera a liga em número de pontos por três temporadas seguidas, um armador típico, coisa que o Miami não tem, o sexto homem da temporada (James Harden), derrotou de forma impressionante o San Antonio Spurs, que vinha de 20 vitórias seguidas, não perdeu nenhum jogo em casa nos playoffs e teria o maior mando de quadra na final. E Lebron, sabemos, amarela.

Como esse time iria perder, então? Como tamanha superioridade, em quase todos os pontos possíveis, poderia ser destruída por um combalido Miami Heat? Pois Lebron foi lá e tomou conta. “Take over”, como dizem. Escoltado por um bravo Chris Bosh, voltando de lesão, pegando rebote como um louco e se atirando em bolas perdidas. Sem dizer na imensa ajuda de “coadjuvantes” como Mario Chalmers, Mike Miller e Shane Battier, todos com mais de 20 pontos em algum dos jogos. Após a primeira derrota em OKC, uma beliscada no home court do adversário e três vitórias seguidas em casa para selar o título, algo que só aconteceu três vezes desde que o sistema 2-3-2 em vantagem no mando de quadra foi instituído, em 1985.

Lebron James teve médias de 28.6 pontos, 10.2 rebotes e 7.4 assistências nos 5 jogos da final, o que lhe valeu o troféu de MVP das finais, o esperado. Outros dados importantes sobre Lebron: ele anotou 26 pontos ou mais em 21 das 23 partidas do Miami Heat nos playoffs. E, desde 1985, Lebron é apenas o terceiro jogador a atingir mais de 600 pontos, 200 rebotes e 100 assistências nos playoffs, juntando-se a Larry Bird em 1987 e Charles Barkley em 1993.

httpv://www.youtube.com/watch?v=42JFe_VV6SM

O que mudou? O próprio Lebron fez questão de explicar: o foco. Acabou a marra, o talquinho pro alto no início dos jogos, o individualismo excessivo, a mentalidade de superestrela, trabalhando os fundamentos ao máximo e com a cabeça totalmente focada em jogar. Lebron escolheu se ausentar da internet, não assistir os noticiários e os comentários sobre ele nos playoffs e se afundou nos livros. Lendo, treinando e jogando. Outra postura, outra mentalidade e outra vontade. Resultado na evolução incrível nos momentos decisivos, nas estatísticas monstruosas, levando ao limite o jogador extraordinário que é.

Depois do jogo, LBJ declarou: “Ano passado eu jogava com ódio, tentando provar uma série de coisas para as pessoas. Mas eu percebi que não tenho que provar nada a ninguém. Passei a jogar com amor”.

Tirando toneladas das costas, Lebron cala de uma vez por todas os críticos, alcança seu objetivo tão esperado e, com isso, tem tudo para reinar definitivamente na liga nos próximos anos, mais leve, mais confiante, com o anel de campeão e com o respeito que merece.

Para o Oklahoma fica o que todos sabem: a certeza de um time extremamente jovem e talentoso, com boa parte dos seus jogadores principais na casa dos 22, 23 anos. Miami Heat e OKC devem formar a principal rivalidade da NBA por um bom tempo e disputar alguns títulos ainda, especialmente com a lesão gravíssima de Derrick Rose, do Chicago Bulls, que o tirou da próxima temporada inteira, da incerteza que isso coloca sobre seu futuro e do processo de reconstrução que times como Boston Celtics e San Antonio Spurs passam.

O próximo draft e a pré-temporada confirmarão muitas das expectativas. Sem a ameaça de lockout, a temporada 2012-2013 da NBA tem tudo para correr normalmente, evitar as dezenas de lesões que tivemos esse ano, prejudicando bastante o espetáculo e ser bem melhor que a última. E ainda temos as Olimpíadas.

Lebron estará assistindo e participando de tudo com a alegria genuína e o alívio que demonstrou ontem, com a certeza do título em mãos.

Jornalista investigativo, crítico e escritor. Publico sobre música e cultura desde 2003. Fundei a Movin' Up em 2008. Escrevi 3 livros de contos, crônicas e poemas. Venci o Prêmio de Excelência Jornalística (2019) da Sociedade Interamericana de Imprensa na categoria “Opinião” com ensaio sobre Roger Waters e o "duplipensar brasileiro" na Movin' Up.

Published in Destaques Esportes