Skip to content →

Ronaldinho: fanfarronismo profissional

Entre o seu retorno para o Brasil no fim de 2010, quando foi disputado via leilão por Flamengo, Palmeiras e Grêmio, supervalorizado (R$ 1,2 milhão por mês) e recebido com pompa e circunstância na Gávea até agora, quando saiu pela porta dos fundos do Flamengo e assinou de maneira incrivelmente rápida um contrato com o Atlético/MG na surdina (R$ 300 mil / mês), nada mudou no Ronaldinho em si, apenas na visão que os torcedores têm dele.

É impossível olhar para Ronaldinho e não perceber aquele cinismo e aquela atuação de um baita jogador que se cansou de ser profissional há muito tempo. Ele alega que saiu “machucado” do Flamengo. Talvez por não aguentar as cobranças, por ver que as regalias iriam diminuir com a chegada de Zinho no comando do futebol rubro-negro, por não suportar ter seu futebol questionado apesar dos resultados pífios para o custo que trazia, como a vexaminosa eliminação na primeira fase da Libertadores.

Ronaldinho não gosta de cobrança. De ser questionado. De não ter privilégios. De mostrar resultado. Já é assim desde que foi sutilmente afastado do Barcelona, onde foi ídolo máximo e atingiu o auge da sua carreira. Foi assim no Milan, no Flamengo e nada indica que será diferente no Galo. Todo o imbróglio revela algo que tenho repetido: o Flamengo possui a administração mais amadora e catastrófica do mundo para um clube do seu tamanho.

Assumir o impagável compromisso de R$ 1,2 milhão por mês depois que a Traffic deu o cano e pulou fora do barco é de uma irresponsabilidade e burrice inexplicável. Expor sua abissal incompetência para explorar a imagem de Ronaldinho no tempo que ele permaneceu lá também. Não rescindir o contrato por justa causa quando tinha provas (exames de sangue) das vezes que Ronaldinho chegou bêbado no treino, idem. Ao que parece, o Flamengo terá que pagar os R$ 40 milhões pedidos, já que assinou um contrato que permitia a Assis o rompimento unilateral se com atraso superior a 2 meses, com direito a receber o restante do contrato até 2014.

Desde o primeiro leilão, muito se falou que Ronaldinho seria apenas um fantoche de Assis. Que não falava nada sem a permissão do irmão. Por mais que possa existir um pouco de verdade nisso, a postura de “menino perdido” de Gaúcho não engana ninguém. Mesmo com o fracasso no clube, estava de volta à seleção, como era o objetivo. Presença constante nas convocações de Mano, que até o colocou como “guia” dessa “nova geração”.

Sair do Brasil e ir para o Oriente Médio, Ásia ou Estados Unidos agora sem dúvida comprometeria bastante sua participação na seleção. Para o Atlético / MG, ótimo negócio. R$ 300 mil por mês é um valor irrisório não só perto do que ele ganhava como para o retorno de marketing, venda de camisas e tudo mais que o dentuço traz. O contrato só até o fim de 2012 protege o clube. Se o futebol continuar o mesmo, não será nenhum problema. Se vier uma vaga na Libertadores, coisa que o Atlético não conquista há mais de uma década, melhor.

Como no Flamengo, Gaúcho terá uma massa apaixonada, será bem recebido num clube do povo com todas as regalias possíveis e uma cobrança menor. Risco mínimo, expectativa zero e, portanto, facilidade para superá-la. Quase todo mundo saiu ganhando. Para o amador futebol brasileiro, é boa a lição de não ficar refém de nenhum jogador.

Jornalista investigativo, crítico e escritor. Publico sobre música e cultura desde 2003. Fundei a Movin' Up em 2008. Escrevi 3 livros de contos, crônicas e poemas. Venci o Prêmio de Excelência Jornalística (2019) da Sociedade Interamericana de Imprensa na categoria “Opinião” com ensaio sobre Roger Waters e o "duplipensar brasileiro" na Movin' Up.

Published in Destaques Esportes