Skip to content →

O excelente mosaico de China

Ex-Sheik Tosado, ganhando a vida como membro do Del Rey, banda cover de Roberto Carlos e recentemente como VJ da MTV, China chega ao terceiro disco de estúdio solo, “Moto Contínuo”, em que não cabe o velho clichê do “amadurecimento”. Se agora China resolveu fazer as coisas por conta própria, produzindo ele mesmo o disco, com o auxílio de vários amigos tanto na produção quanto na música em si, a escolha se mostra acertada.

Optando por não utilizar leis de incentivo – que financiaram o anterior, “Simulacro”, de 2007 – bancando o disco com a grana do Del Rey, China resolveu explorar tudo que lhe interessava, exposto já na abertura com “Boa Viagem”: riff marcante, distorções “gordas” e efeitos bem trabalhados. “Só Serve Pra Dançar” é exatamente o que o título entrega e desde já é um dos “singles” do ano da música brasileira. Divertida e que fica na cabeça logo na primeira audição, conta até com riffs calcados na surf music.

httpv://www.youtube.com/watch?v=9wWRz9OqdNI

A boa balada “Overlock” traz a participação dos vocais de Pitty. “Nem Pensar em Você” começa em ritmo retrô para desaguar na ótima linha vocal de China e numa cama de instrumentos que, não por acaso, guarda alguma semelhança com o trabalho do Mombojó. Impressiona, no geral, a capacidade de China em criar faixas que não escapam da memória, em construir vocais pop com nítida sofisticação – e vocação – verdadeiramente popular. Sem resvalar na pieguice, em soluções fáceis ou nas armadilhas em querer ser “alternativo demais”.

As faixas, riquíssimas, variam entre o dançante, o eletrônico, o rock e um incrível senso de canção popular moderna, como já dito, que se explica pela história de China, suas influências e gostos.  “Mais um Sucesso Pra Ninguém”, com a participação da cantora Ylana Queiroga, é outra pepita e revela o sarcasmo típico dessa geração. “Mais um sucesso pra ninguém / canção que vai morrer no ar”: versos que parecem brincar, irônica e frontalmente, com a própria situação da música “independente” brasileira.

Um dos melhores discos do ano no país – certamente – segue firme com belezas como “12 Quedas”, “Espinhos” (onde finca um pezinho no hardcore do passado),  “Terminei Indo” (com Tiê) e “Programador Computador”. Nunca soando como uma colcha de retalhos qualquer, apesar da maneira como foi feito, “Moto Contínuo” conserva uma unidade bem particular.

Ouça e baixe gratuitamente na Trama Virtual.

Published in Destaques Reviews de Cds