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Inquieto, Damon Albarn acerta em “Everyday Robots”

Desde que pôs fim definitivo ao Blur – ou quase, já que sempre há a tentação de uma reunião – Damon Albarn gostou de arriscar e experimentar o que bem entendesse: dos vários (bons) discos com o Gorillaz, banda conceitual e inovadora dentro dos seus limites, brincando com o hip-hop, rock alternativo, pop e eletrônico em geral, passando pelo “supergrupo” The Good, The Bad & The Queen, pelo Rocket Juice and The Moon (ao lado de Flea e Tony Allen), das trilhas sonoras e dos dois discos solos anteriores, Albarn trafegou em terrenos variados com mais ou menos sucesso.

“Everyday Robots” é, fácil, muito superior a “Democrazy” de 2003 e “Dr. Dee”, de 2012. E o motivo é a sua coesão absurda e a mão calibrada de Damon, gerando pepitas de melancolia e beleza únicas como “The Selfish Giant”, “Lonely Press Play” e “You And Me”, dando o tom do downtempo e “art pop”, tônica do disco, até para músicas como “Mr. Tembo”, digna de um Ben Harper (ou Peter Gabriel, , destoando do trabalho, mas ainda assim bem boa.

httpv://www.youtube.com/watch?v=iI8_Jz2SwbE

Comparado a Thom Yorke, outro ícone do “brit-pop” que acaba de lançar álbum solo também majoritariamente eletrônico, Damon Albarn soa muito mais não só palatável, como capaz de organizar melhor as próprias ideias. Descontado o Gorillaz, é o melhor trabalho dele desde o fim do Blur.

“Hollow Ponds” é o pop soturno tão eficiente quanto uma mistura do melhor de Rufus Wainwright e Nick Cave seria capaz, sempre, porém, com identidade própria, algo não muito difícil para quem cravou seu nome na história da música pop nos últimos 20 anos e tem uma das vozes mais marcantes.

httpv://www.youtube.com/watch?v=hwfsV50m7Dg

Além da produção caprichada, chama a atenção o fato de Damon evitar o excesso e jamais cair naquele perigo de “música complexa repleta de batidas variadas autorreferentes”. A trinca final, com “Photographs (You Are Taking Now)”,”The History of a Cheating Heart”, “Heavy Seas of Love” – nomes bem escolhidos que chamam a atenção – evidencia o minimalismo sem ser simplório e as mudanças de andamento tão caras a Albarn.

“Everyday Robots” é um bom disco de um artista que nem sempre acerta, mas que merece respeito pela coragem histórica de arriscar e fazer o que bem entende com a sua carreira.

Jornalista investigativo, crítico e escritor. Publico sobre música e cultura desde 2003. Fundei a Movin' Up em 2008. Escrevi 3 livros de contos, crônicas e poemas. Venci o Prêmio de Excelência Jornalística (2019) da Sociedade Interamericana de Imprensa na categoria “Opinião” com ensaio sobre Roger Waters e o "duplipensar brasileiro" na Movin' Up.

Published in Reviews de Cds