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Hip-Hop independente entre os melhores do ano

Novos dis­cos de Ab-soul, Schoolboy Q, Killer Mike, El-P e Death Grips tra­zem novi­da­des ao gênero

Por Paulo Floro

Discos da cena inde­pen­dente do hip hop ame­ri­cano estão entre os melho­res álbuns lan­ça­dos este ano. O des­ta­que é Ab-soul com o con­cei­tual Control System. Juntam-se a ele os novos tra­ba­lhos do Curren$y, Killer Mike, Schoolboy Q, El-P e Death Grips. 

Ab-soul é um dos mem­bros da banda cali­for­ni­ana Black Hippy, que este ano reve­lou ainda outro rap­per para o cená­rio pop alter­na­tivo, Schoolboy Q. Formados em 2009, o grande trunfo do cole­tivo é con­tar com inte­gran­tes que pos­suem car­rei­ras sóli­das em sepa­rado. O disco de Ab-Soul, Control System destaca-se pela pro­posta con­cei­tual em falar de um mundo neu­ró­tico, domi­nado por um governo despótico.

O rap­per Ab-Soul (Foto: Divulgação)

O álbum — na ver­dade, uma mix­tape — usa com cri­a­ti­vi­dade ele­men­tos do gangsta rap, com bases sotur­nas que abri­gam com maes­tria os ver­sos sobre con­sumo de maco­nha, ter­ro­rismo, vio­lên­cia e mili­ta­rismo. Participações de vocais como Alori Joh e Jhene Aiko, car­re­ga­das de deli­ca­deza, criam um con­tra­ponto para o dis­curso sem­pre no tom rai­voso de Ab-soul, dando ar de sofis­ti­ca­ção no resul­tado final. O disco abre com uma sequên­cia que prende o inte­resse do ouvinte, “Soulo Ho3”, “Track Two” e “Bohemian Groove”, em que ele canta “foda-se o governo, foda-se o sis­tema, foda-se você”, sem pare­cer ingê­nuo ou ridículo. Com este disco, Ab-soul fez o mais cere­bral tra­ba­lho de rap deste ano.

httpv://www.youtube.com/watch?v=TNpcN_iQszk

Schoolboy Q (Foto: Divulgação)

Seu colega de banda, Schoolboy Q, é mais pro­lí­fico, com par­ti­ci­pa­ções em diver­sos lan­ça­men­tos desde o ano pas­sado, de Jay Rock a A$AP Rocky. Seu novo álbum solo,Habits & Contradictions tem um tom menos pes­si­mista. Pelo con­trá­rio. O rap­per quer mos­trar um lado mais posi­tivo da vida, sem muita recla­ma­ção e mais con­fi­ança nas ações. O tom, no entanto, está longe do bom-mocismo que vemos no Hip Hop bra­si­leiro, por exemplo.

httpv://www.youtube.com/watch?v=l9bsJ7oGokg

Schoolboy Q não se roga em falar sobre sexo, dro­gas e outros assun­tos sem inge­nui­dade e ainda assume ris­cos ao apos­tar em ele­men­tos de música ele­trô­nica, como em “Sex Drive”. Entre as par­ti­ci­pa­ções espe­ci­ais temos os cole­gas Kendrick Lamar, Ab-soul, Jay Rock, além de Curren$y, Dom Kennedy, Alori Joh e J. Hene Aiko. Todo esse povo mos­tra que a gra­va­dora Top Dawg Entertainment (que tam­bém lança o Black Hippy), é hoje a maior res­pon­sá­vel por pro­vo­car novi­da­des no cená­rio do hip hop.

Curren$y lança pri­meiro tra­ba­lho pela Warner (Foto: Divulgação)

Bem mais expe­ri­ente, o rap­per Curren$y lança seu novo tra­ba­lho, The Stoned Immaculate, o pri­meiro total­mente ban­cado pela major Warner Bros. Ainda man­tendo as raí­zes na cena indie, mas tra­zendo par­ti­ci­pa­ções de nomes conhe­ci­dos como Estelle e Wiz Khalifa, ele fez um rebo­la­tivo disco com muita influên­cia de R&B. O mais comer­cial dessa leva de bons dis­cos de hip hop, é um tra­ba­lho que mos­tra o quanto Curren$y atin­giu uma zona de con­forto den­tro do gênero sem per­der a inventividade.

httpv://www.youtube.com/watch?v=649fq79BCuw

É uma cele­bra­ção do pró­prio sucesso, e isto é mais do que mere­cido. As der­ra­pa­das acon­te­cem ape­nas em pou­cos momen­tos, como “Chasin’ Papers” com a par­ti­ci­pa­ção do faro­feiro Pharrel. Ou na enfa­do­nha “Showroom”. De resto, temos uma cole­ções de fai­xas que pode­riam muito bem virar hits, como “That’s The Thing” (com Adele), “Faster Cars Faster Woman” (com Daz Dillinger) e “What It Looke Like”, o pri­meiro sin­gle e a melhor do álbum.

Killer Mike (Foto: Divulgação)

Por fim, outro disco acla­mado é R.A.P. Music, do rap­per Killer Mike, aqui em seu sexto tra­ba­lho. Trata-se de uma bem coesa mis­tura de rock e rap, com pita­das de expe­ri­men­ta­lismo. Tudo culpa do pro­du­tor El-P, nome res­pon­sá­vel por levar o gênero a novas fron­tei­ras e con­si­de­rado o mais visi­o­ná­rio dos rap­pers hoje em ati­vi­dade. Mike vai longe com crí­ti­cas à polí­ti­cos e letras sar­cás­ti­cas sobre o pas­sado dos EUA (“Reagan”). Tem viço sufi­ci­ente para tornar-se uma obra-prima do pop daqui há uns anos.

httpv://www.youtube.com/watch?v=xxf2kvyZFxY

Não chega a que­brar bar­rei­ras como It Takes a Nation of Millions to Hold Us Back, do Public Enemy ou My Beautiful Dark Twisted Fantasy, de Kanye West, mas com cer­teza já é um clássico.

Killer Mike tra­ba­lhou com El-P (à direita), no novo disco (Divulgação)

Experimental
O músico e pro­du­tor ame­ri­cano Jaime Meline, conhe­cido pelo nome de El-P é um dos nomes mais acla­ma­dos do hip hop hoje. Seus dis­cos são mar­ca­dos por puro expe­ri­men­ta­lismo, mas sua influên­cia é sen­tida no tra­ba­lho ao lado outros artis­tas, seja pro­du­zindo ou fazendo par­ti­ci­pa­ções. A lista é extensa: Aesop Rock, A$AP Rocky, Prefuse 73, Del Tha Funkee Homosapien, Das Racist, Killer Mike, entre outros. Portanto, ele é hoje o arqui­teto que pro­põe mudan­ças estru­tu­rais no gênero.

httpv://www.youtube.com/watch?v=1kmI2UdHdlQ

Neste aguar­dado disco, Cancer For Cure, Meline con­so­lida ainda mais o namoro rap-eletrônica. É o que prova com “The Full Retard”, pri­meira faixa a ser divul­gada e um das mais dan­çan­tes. Cheio de tex­tu­ras, sam­plers inu­si­ta­dos, ecos de dubs­tep, house, mini­ma­lismo, com este tra­ba­lho, El-P vai que­brando regras den­tro do hip-hop, gênero que, deli­ci­o­sa­mente, ele colo­cou de cabeça para baixo.

Death Grips: experimentalismo no talo

Formado em Sacramento, California, pelo vocalista Stefan Burnett, o baterista Zach Hill e o tecladista Andy Morin, o Death Grips apareceu com uma mixtape em 2011, “Exmilitary”. Agora, com “The Money Store”, surpreendentemente lançado pela Epic, o projeto expande seu experimentalismo radical para uma embalagem um pouco mais acessível, “dançante” e comercial.

Destaca-se as bases anárquicas de Morin que servem de muro para o caos e a violência controlada de Burnett e Hill. Faixas como “Punk Weight” e “The Fever (Aye Aye)” são ótimo exemplo disso, completando a variedade ao lado de uma “I’ve Seen Footage”, com uma estranha vocação para as pistas undergound.

httpv://www.youtube.com/watch?v=W43aQxzjyeM

“Avant-rap” de primeira, “The Money Store” é uma mistura explosiva de rap inteligente, bases eletrônicas pesadas e sofisticadas, rock, punk, jazz e ritmos africanos. Um dos melhores discos do ano até aqui, sem dúvida. (Maurício Angelo)

Jornalista investigativo, crítico e escritor. Publico sobre música e cultura desde 2003. Fundei a Movin' Up em 2008. Escrevi 3 livros de contos, crônicas e poemas. Venci o Prêmio de Excelência Jornalística (2019) da Sociedade Interamericana de Imprensa na categoria “Opinião” com ensaio sobre Roger Waters e o "duplipensar brasileiro" na Movin' Up.

Published in Destaques Especiais