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Nocet: 20 anos de rock n’ roll

Rock n’ roll. Poucos grupos no Brasil podem se gabar de praticá-lo com competência. A Nocet, de Santa Maria, Rio Grande do Sul, há 20 anos na estrada, é uma delas. Um desses casos de incompreensível permanência no underground após tanto tempo, o power trio gaúcho, divulgando o álbum “Bullets”, de 2006, e preparando uma nova investida em âmbito nacional, deu esse relato para a Movin’ Up.

Movin’ Up – Tão afastados do resto do país, que diferença vocês notam no rock produzido deste lado da fronteira?

Marcus Molina – A principal diferença que vemos é a grande influência que o ‘Rock Gaúcho’ traz do Rock dos anos 60 e 70, principalmente a cena britânica deste período: The Beatles e os Rolling Stones, The Who, Led Zeppelin, Black Sabbath, Deep Purple, Cream, Yes, Pink Floyd, etc. Também não dá para deixar de fora algumas semelhanças regionais, nesse caso mais norte-americanas, tipo Bob Dylan, Creedence Clearwater Revival e, é claro, “O Rei” Elvis Aaron Presley. O ‘resto do país’, como você se refere, parece ter uma pegada mais influenciada no Punk, Pós-Punk, ou no Heavy Metal, nos casos de RJ, SP e MG.

Movin’ Up – 20 anos e apenas dois álbuns. Não é pouco? Que dificuldades a NOCET enfrentou nesse período?

Na realidade, se formos computar outras produções da banda, como as performances ao vivo (arquivos em cassete ou VHS) de canções que sequer foram gravadas num estúdio, as coletâneas e os bootlegs, acho que daria para lançar, pelo menos, um álbum duplo. Tem até trilha sonora para peça de teatro infantil (rs…). As dificuldades que a banda enfrentou são as mesmas que qualquer banda enfrenta; a grana, ou a falta dela (rs…), os diferentes interesses dos integrantes, a carência de lugares onde tocar e, por que não citar, até mesmo alguma resistência por parte da metrópole – a capital. É bem verdade que a opção pela língua inglesa nas letras também deu uma certa dificultada em nível nacional, preconceito este que, alias, só nos últimos três ou quatro anos tem diminuído.

Movin’ Up – Até chegar ao formato power trio atual houveram muitas brigas entre os antigos integrantes? Como este line-up auxilia nas funções de uma banda?

Diferenças sempre existem, as vezes de influências musicais, as vezes de convicção de idéias, ou mesmo de personalidade, mas nenhum ‘mal’ do qual outras bandas também já não tenham sofrido. A mais relevante de todas e, que talvez tenha resultado numa mudança estética na sonoridade da banda, foi no final dos 90, quando a maioria dos integrantes resolveu priorizar interesses pessoais. Daí foi a ‘diáspora’ né (rs…); é como diz o ditado, “cada um com seus cada qual” (rs…). A formação atual, mais enxuta e econômica para quem paga (rs…), resulta numa sonoridade mais crua, mas mais ‘aeróbica’; tanto quem toca, quanto quem ouve, consegue respirar melhor, saca? …sem ‘frescuras’ mesmo e, é claro, exige mais criatividade nos arranjos. Não dá para encher as músicas de ‘firulas’ no estúdio e depois não conseguir reproduzi-las on stage. Sem contar que, mesmo ‘enfiando a mão’, tipo com volume no talo mesmo, toda a banda aparece …and that’s cool! ; )

Movin’ Up – Santa Maria, cidade universitária, é conhecida em todo país pelo padre-guru da nova era Lauro Trevisan. Como é conviver com o tradicional (a igreja) e a vanguarda (a universidade) tão de perto?

Este clima influencia nas músicas? Não acreditamos em nenhuma opção messiânica, de auto-ajuda ou coisas do gênero. Uma vez ele escreveu algo, num jornal local, sobre síncopa, ou compassos sincopados; ele dizia que não fazia bem para o coração, pois o ouvinte teria seu batimento cardíaco alterado conforme as diversas alterações do ritmo, num curto espaço de tempo. Lembro que ficamos perplexos, diante de tamanha bobagem. Também pudera, escutávamos quase que só progressivo na época. Não estamos sintonizados nessas idéias, mas não chega a ser um ‘bode na sala’. O último prenúncio de Nova Era ao qual assistimos foi o Hair (rs…); alias, que baita filme né hein? (rs…) Com relação à universidade, ela não é tão vanguardista assim, mas é o nosso público mais fiel. A banda surgiu dentro dela. Fizemos shows no RU do campus, em vestibulares, festivais e mostras universitárias. Arrisco dizer que é o que nos mantém em pé; são as nossas ‘brigadas’. Eles são sempre tri Rock ‘n Roll e, por conseqüência, nossa maior influência.

Movin’ Up – 20 anos é um bom tempo. Quais as principais diferenças que vocês notam na cena, de quando começaram pra hoje?

A principal diferença é a Internet, ou seja, acesso a tudo, artes e tecnologias; mas esta é a parte boa. Toda essa acessibilidade no espaço virtual gera uma preguiça mental medonha. Sem falar no espaço físico para divulgação que, pelo menos localmente, está cada vez mais escasso. Globalmente falando, este espaço está cada vez mais saturado e, o pior, de coisas com qualidade questionável. Parece não haver nada de novo ou genuíno. Não é preconceito de nossa parte, é falta de conceito no todo.

Movin’ Up – Estaria mais fácil ou mais difícil para um grupo independente fazer sua própria história?

Virtualmente está mais fácil, sem dúvida. Mas na real, prá tocar, fazer shows nos lugares onde está o teu público, ainda existem dificuldades técnicas e de logísticas. A grande sacada são e, sempre foram, os festivais; esses são os espaços mais legais e mais ‘democráticos’ do momento.

Movin’ Up – Olhando de fora, o rock gaúcho parece uma panela fechada e muito cheia de si. Quanto de soberba e de verdade tem nessa história?

A soberba fica por conta das bandas porto-alegrenses de maior evidência nos anos 80 (Engenheiros do Hawaii e Nenhum de Nós, para citar só dois exemplos) que, sem dúvida, trouxeram grande contribuição para a cena ‘rocker brazuka’ dessa época. Mas, para podermos usar a expressão “Rock Gaúcho”, entendemos que a verdade só se revela integralmente nos 2000, quando a presença emblemática de bandas também do interior, descentralizou a atenção da grande mídia, meio que quebrando a hegemonia da capital. Só para exemplificar duas – Cachorro Grande e Fresno, que apesar de terem chamado a atenção de empresários de Porto Alegre e, dali partido para o estrelato nacional, vieram de outros rincões; e, cá entre nós, que p*t*s bandas!

Movin’ Up – Como foi a recepção de “Bullets”? Sonoramente, o que ele representa para o grupo?

Embora já tenham se passado ano e meio do lançamento oficial do “Bullets” (2006), em nível regional diríamos que a receptividade foi ótima, dado a mudança na estética sonora da qual mencionamos anteriormente. Temos o entendimento de que evoluímos musicalmente. Não perdemos fãs, pelo contrário, só agregamos mais público. Em nível nacional, ainda que com delay, estamos começando a ‘botar o bloco na rua’ e preparando uma divulgação massiva no centro do país para o segundo semestre. Já ‘na gringa’ a coisa tem que ser com mais cautela, mas alguns contatos com importantes festivais norte-americanos, europeus e asiáticos estão começando a ser estabelecidos. Vai dar Rock (rs…).

Movin’ Up – O clip de “Maragato Robot” foi feito dum modo interessante. Como foi a experiência de atuação no vídeo e a quantas mãos ele saiu? Dada a popularização e as inúmeras formas de exploração do vídeo digital, este é um formato viável para bandas independentes no momento?

Feito no mais tradicional e glorioso espírito cooperativo, o clipe foi produzido durante a Oficina de Videoclipe do VI Santa Maria Vídeo e Cinema, sob os – 6º C, proporcionados pelo imperdoável inverno da serra de Itaara/RS, com direção de Cristiano Zanella, fotografia de Giovani Rocha, co-produção da Finish Filmes e a ‘mão na massa’ dos 14 oficineiros que, além de botarem a teoria em prática, usaram como ordem, a palavra “diversão”. No que se refere à atuação, o resultado até que ficou bem legal, pois já que nossas ‘latinhas’ não ajudam muito – e não estamos nem aí prá isso (rs…), a coisa se reduziu a …just plug and play. O vídeo digital é a grande sacada, pois possibilita fazer, literalmente, qualquer coisa, sob diversas formas de captura, em qualquer formato e com qualidade proporcional a qualquer orçamento. Depois, é só postar no You Tube; e aí meu, já era.

Movin’ Up – Como estão as gravações do novo CD? Planos para comemorar os 20 anos?

Na realidade ainda não passa pela nossa cabeça entrarmos em estúdio. Estamos naquela fase de afinar os arranjos, ensaiar pracara*** e enfim, entre um churrasco e outro, irmos tomando intimidade com as novas canções, para que elas ‘nos convençam’ e, então produzir alguns leiautes. Não temos intenções de revelar nada antes do final do ano. A única coisa que podemos adiantar é que abriremos espaço para letras em português e, por que não, em outros idiomas. Queremos sim produzir algum material no formato vídeo, com performances da banda em palco, com público e tal. Nossos fãs nos cobram muito um DVD ao vivo. De repente, pode servir como um preview para algo maior, daí sim em comemoração aos 20 anos.

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Published in Entrevistas