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A MTV quer voltar a ser relevante

É – no mínimo – um erro subestimar o poder que as mídias ditas “tradicionais” ainda possuem. A MTV, com seu sinal aberto em muitas metrópoles do país, tem uma baita presença e influência: ter seu clip independente veiculado na emissora, em qualquer horário, provavelmente levará sua música a muito mais ouvintes que um “boca a boca” normal na web. Mas não é de hoje que o canal fez tudo para se auto-sabotar.

Há muito que programas interessantes sobre música simplesmente deixaram de fazer parte da programação. A aposta caiu sobre os “reality shows”, programas de auditório de gosto duvidoso, a infinita aposta no público adolescente, carinhas bonitinhas (Fernanda Lima, Cicarelli, Ana Luiza Castro, etc) e humor (Hermes & Renato e Marcos Mion levaram nas costas durante um bom tempo, Marcelo Adnet e cia vieram pra salvar recentemente). Em 2007, numa interpretação equivocada de sua própria época, a MTV decidiu reduzir ao máximo a entrada de clips na programação. Ironia das ironias. É aquele argumento imbecil de que “clip hoje é visto na internet – e só nela, precisamos partir pra outra”. O velho receio de uma tecnologia antiga – TV – se sentir ameaçada por uma nova – web – e ter toda uma relação exagerada e infeliz com isso. Passa, com muitos absurdos, mas historicamente as relações se alinham e um aprende a conviver com o outro: exemplos não faltam.

Cada vez mais irrelevante e ridícula, sobrevivendo dos lampejos de novas figuras, como Adnet, e de fórmulas já pra lá de batidas, como o Rock Gol, a MTV se agarrou ao público cada vez mais “jovem” para sobreviver. A explosão de bandas do chamado “emo” – antes com CPM 22, NXZero e cia – e agora com Restart e toda trupe, a “tendência” foi abraçada quase sem restrições.

Eis que 2011 parece ser o ano em que a emissora quer tentar voltar a ser relevante, depois de sucessivamente perder audiência para canais como o Play, o Multishow e o VH1. Informações de bastidores – de gente que trabalha há mais de 20 anos no canal – apontam para uma guinada “adulta” da MTV. E os sinais já são claros: André Mantovani, um dos responsáveis pela grade há anos, foi substituído por Helena Bagnoli. VJ’s como Léo Madeira, Marina Person, Kika Martinez e Penélope Nova (no front), Cris Lobo, Paulo Bonfá, Marco Bianchi, Lobão e Vanessa Haidi foram ou serão cortados.

Arnaldo Antunes, China – figura fácil do meio independente, colaborador do Mombojó, com carreira solo, etc – Chuck Hipolitho (ex-Forgotten Boys e a própria MTV, atual Vespas Mandarinas) e Gaía Passareli, do Rraurl já foram confirmados no novo quadro. Muitas mudanças ainda virão, como a abertura de 30% da grade para programa de produtoras independentes e internacionais.

Ainda há que se conferir em que grau, de que forma e com que empenho estas mudanças serão implementadas e que novo nível o canal atingirá. Mas tudo indica uma tentativa de sair do ostracismo vergonhoso que se encontra há anos – que começou a mudar com o investimento num portal gigantesco, com ótimas extensões, há algum tempo. Boa notícia para um canal com uma história riquíssima, que chega a milhões de pessoas e ainda de grande valia para a música brasileira.

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Published in Cena BR Destaques