O fato de Lady Gaga obter qualquer “destaque” no mundo pop é a prova desnecessária do buraco negro e fedorento onde nos enfiamos. Reciclando todos os clichês possíveis, Gaga tenta desesperadamente ser a nova Madonna. Ou coisa muito pior. A começar pela ascendência italiana. Loirinha, pagando de puta, musiquinhas dance, presepadas no palco, etc, etc, etc. Vinda da mesma escola católica que Paris Hilton, Stefani Joanne Germanotta atinge limites impressionantes de atentado à música. E fora dela.
Não é de hoje que o estilo “puta descolada” dá resultado. Com maior ou menor “graça”, esta é a regra vigente há algum tempo: da já citada Madonna passando pelas óbvias Britney Spears, Aguilera, Pussycat Dolls, Fergie e cia. Algumas delas são passáveis de tão inofensivas (Katy Perry, por exemplo). A maioria não. Esquecendo outras de expressão ainda menor, que não sobreviveram 3 meses nos holofotes. O pop é um negócio engraçado.
O pior problema da alcunha terrivelmente larga do “pop” é que não dá pra passar ileso por ele. É como aquele flautista peruano onipresente. O Jonas Brothers. Toda sorte de porcaria existente. Se você não gosta de death metal ou de música tradicional iraquiana, sem problemas. Possivelmente não será incomodado por eles. O pop não. É a gripe suína elevada a enésima potência. A pandemia inescapável. Os muitos minutos de vida desperdiçados. Lady GaGa.
Uma legítima aula do pior que podemos ter. A artista que “não dá a mínima pro dinheiro”, segundo a própria. Combinar música, “arte” e tecnologia é um artifício usado há centenas de anos. Do teatro de todos os tempos a Pink Floyd, Velvet Underground e o diabo há quatro lá nos anos 60. Do progressivo ao pop. Do rock ao eletrônico. Do experimentalismo ao hip-hop. Passando por trocentos outros nomes, boa parte de relevância significativa e qualidade pouco discutível.
GaGa (‘) é o que a própria definição entrega, trazendo para a brincadeira do português: caquética, naturalmente ultrapassada, forçosa e digna de pena.
Seria minimamente perdoável se a criatura fizesse música capaz de entreter. O termo, aliás, virou adjetivo. Como se “entreter” fosse uma qualidade intrínseca. Uma virtude em si. Característica que salva uma obra, seja ela qual for, do fracasso total. Desculpa para camuflar algo simplesmente ruim. Entretenimento importa. Desde que seja absurdamente bom. O resto é insignificante.
“Poker Face” deveria ser usada com fins medicinais para a prisão de ventre:
httpv://www.youtube.com/watch?v=8d27Hj8Gg9o
Sou obrigado a discordar do jornalista do Times quando ele diz que o álbum de GaGa é: “a fantastic mix of Bowie-esque ballads, dramatic, Queen-inspired midtempo numbers and synth-based dance tracks that poke fun at celebrity-chasing rich kids. It’s entertaining, incredibly witty and, above all, captivating.”
Coitada da banda inglesa, “homenageada” até no nome da aberração.
Considerar Lady GaGa o “futuro” ou o presente do pop é caso sério de internação hospitalar. O que não exclui o direito que todos tem de apreciar toda sorte de lixo disponível. Nunca houve tempos tão propícios para a reciclagem, afinal.