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O retorno do Gang Of Four

Lembro bem quando li “A Última Transmissão” pela primeira vez. Entre tantas histórias excelentes, o capítulo que Greil Marcus traçava sobre o Gang Of Four era especialmente significativo. Ali, no calor da virada dos anos 70/80, aquela banda parecia ser uma das mais interessantes e originais do mundo – e era. Com “Entertainment!”, “Solid Gold” e “Songs of the Free” o Gang Of Four cravou seu nome na história e influenciou dezenas de bandas de lá pra cá – de REM, Nirvana e Red Hot Chili Peppers até 8 entre 10 bandas do Reino Unido que surgiram nos anos 2000, como Franz Ferdinand e Radio 4 (descarado).

Os álbuns que vieram após 1982, já com a formação original desfeita, nem de longe chegaram perto das primeiras obras. Jon King e Andy Gill perdiam muito sem Dave Allen e Hugo Burnham. Dessas bandas que tem toda uma magia especial com os integrantes essenciais – e ficam descaracterizadas sem eles. Em 2005, resolveram se reunir, lançaram canções repaginadas em “Return The Gift” e excursionaram pelo mundo. No Brasil, em 2006, eu estava lá. E fizeram um show que está entre os 5 melhores que já vi na minha vida.

De lá pra cá, não pararam de tocar. Mas novamente Burnham e Allen decidiram pular fora. O Gang of Four teve que se reconstruir novamente. Mark Heaney e Thomas McNeice entraram como substitutos. O EP liberado como prévia de “Content”, o novo álbum de estúdio após 16 anos, trouxe uma nova versão de “Glass”, do primeiro disco, sensacional como sempre. E duas faixas inéditas pouco empolgantes: “Sleeper” e “I Party All The Time”.

Muito do punch, da qualidade e do eixo único que criaram fica bem fragilizado sem a bateria absurda de Burnham e o baixo avassalador de Allen – não à toa uma das cozinhas mais influentes do rock, grandes responsáveis por tornarem o Gang Of Four o que é. Sem desprezar a guitarra de Gill, igualmente decisiva e inimitável (apesar de todas as tentativas) e o frontman icônico que Jon King se tornou. Fato que “Hard” (83), “Mall” (91) e “Shrinkwrapped” (95), os três discos feitos exclusivamente pela dupla, dão sinais suficientes de algo longe da sua capacidade máxima.

O novo clip, recém-liberado, “You’ll Never Pay For The Farm”, fica acima do que o EP mostrou. É torcer para que “Content” – que vem arrancando elogios fortes de revistas como Q e Uncut, colocando-o como o mais empolgante desde o debut – consiga quebrar a sequencia de três discos ruins.

Update: o disco acaba de vazar, aqui.

httpv://www.youtube.com/watch?v=9JL6ZLQaf2E

Published in Destaques Mundo