Até 2009, David Guetta era um DJ e produtor francês virtualmente desconhecido do grande público, com 3 discos que venderam bem na Europa e os esboços de sucesso “Delirious” e “Love Is Gone”. Com “One Love”, no entanto, Guetta iniciou uma trajetória de escalada que o tornou o DJ mais bem sucedido da sua geração, de longe, empilhando hits, Grammys, vendendo 6 milhões de discos, 15 milhões de singles, fazendo fortuna, emplacando parcerias com outros artistas do mainstream e chegando ao “cobiçado” posto de DJ número 1 da tradicional votação da revista DJ Mag, em 2011.
Até então, o posto era revezado entre os holandeses Tiesto, Armin Van Buuren e o alemão Paul Van Dyk, todos apostando no trance, no progressive trance e no house mais comercial. Nenhum deles chegou perto do estrondo que Guetta conseguiu. O house francês, uma mistura do euro disco mais cheesy, com traços de P-Funk e música black americana para as pistas dos anos 70-80, tinha, até então, do lado mais “alternativo” e queridinho da crítica, o Daft Punk, e do mais escrachado, Bob Sinclair, do sucesso “Love Generation” e sua vibe “feeling good hit of the summer”.
httpv://www.youtube.com/watch?v=kNij6QZp_DI
Guetta achou seu caminho ao se associar com artistas já de algum sucesso em seus países de origem e também no mundo. “When Love Takes Over”, seu cartão de visitas, trouxe Kelly Howland (uma das fundadoras do Destiny’s Child), um pianinho safado e repetitivo, seguida de “Sexy Bitch”, parceria com Akon (estourado desde 2005 com “Lonely”), estratégia que seria seguida com enorme sucesso, se aliando a nomes como Kid Cudi, Lil Wayne, Fergie, LMFAO, Black Eyed Peas (que experimentou uma segunda onda e seu maior hit com “I Gotta Feeling”), Flo Rida, Nicki Minaj, Ludacris, Taio Cruz, Usher, Snoop Dogg e outros.
httpv://www.youtube.com/watch?v=hWjrMTWXH28
Guetta achou a fórmula perfeita: misturar o lastro do euro dance, do house e do trance, sucesso comercial estabelecido e garantido na Europa e Reino Unido com expoentes do hip hop americano, a outra ponta do mainstream que domina os charts há um bom tempo, temperado com chupinhações espertas do “rock”, tudo embalado em batidas espertíssimas, vocais limpos, “viajantes” e “catchy”, herança direta do prog trance (“Titanium” é o exemplo perfeito) e suas partes de hip-hop mais “easy livin” possível.
O que custamos para admitir é que é preciso algum talento pra fazer essa maçaroca render. Guetta é esperto o bastante para reconhecer suas infinitas limitações e não ir além do que é capaz de entregar. Ele aposta no seguro, fecha as arestas bem fechadas e produz exatamente o que seu público espera dele.
httpv://www.youtube.com/watch?v=JRfuAukYTKg
A música eletrônica maistream talvez seja o nicho mais difícil para se manter no topo por um longo tempo, considerando sua enorme capacidade de processamento, seu apreço ao imediatismo acima da média e seu funcionamento através de singles. Com tudo isso, Guetta já atravessa alguns verões sem concorrentes diretos, cravando seu nome como um dos DJ’s mais bem sucedidos de todos os tempos.
Figurinha fácil no Brasil, quem quiser se entregar para a mistura esperta de Guetta poderá conferir os shows do francês, em janeiro, numa turnê que inclui Guarujá, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Ribeirão Preto. Se a música eletrônica é um moinho, não dá pra negar que Guetta consegue se esgueirar entre ela com um permanente sorriso no rosto e muitos truques disponíveis.