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Roy Harper: o homem e o mito

Figura central do folk inglês, Roy Harper nunca teve a mesma atenção que seus contemporâneos Bob Dylan, Nick Drake, Van Morrison, Tim Buckley e outros. Amigo de Jimmy Page e de boa parte da nata do rock inglês – Paul McCartney, David Gilmour, Ian Anderson, Pete Townsend, etc – Harper foi homenageado pelo Led Zeppelin na faixa “Hats Off To Harper”, do “III” e cantou a ótima “Have a Cigar” no álbum “Wish You Were Here”, do Pink Floyd.

Após o auge criativo na década de 70, quando também era contratado da EMI, Roy só foi recuperar seus bons momentos nos anos 90, lançando discos bem esporádicos através da sua própria gravadora, Science Friction. “Man & Myth” é o primeiro disco de Roy, 72, desde “The Green Man” de 2001.

Conhecido pelas letras poéticas que tem grande influência dos românticos do século 19 e principalmente de John Keats, Harper traz para o novo disco uma coleção de 7 novas canções impressionantes, começando por “The Enemy” e seus 7 minutos que soam frescos e clássicos, com seu vocal inconfundível e seu jeito próprio de tocar e tecer melodias: um ótimo exemplo do quanto David Gilmour foi influenciado por ele, também.

httpv://www.youtube.com/watch?v=8-AWrcAr9HY

“Cloud Cuckooland”, que conta com a guitarra de Pete Townsend do The Who é, naturalmente, a mais “rocker” do disco, com a primazia de Harper em criticar e satirizar o nosso tempo. Sobretudo, “Man & Myth” é um testamento, como Harper declara no seu site oficial:

I love the songs. I am in them. I can be the enemy, the lover and the ancient dreamer. I’ve always been critical of human politics, and always detested attempts at social control by means of totalitarian religion. Our heaven is here. It’s nowhere else. Each one of us has a brief glimpse, by the nature of what has been developing here for millions of years. A long striving for consciousness, and an increasing ability to interact with our environment. Finally, I am the exile. I’ve long known exactly how that feels. Perhaps it’ll change someday, but it’s my most serene default position.

Songs and poems have a life of their own when they become public. At that moment they’re set in stone. They can be changed, but everyone remembers the original. They arrive by chance, like children. And just as randomly. There are a thousand other thoughts occurring at the same time, but the chosen one emerges to become a song, and a member of the family.

“Heaven Is Here” e seus 15 minutos são um resumo da ambição, do pensamento e de toda a musicalidade de Harper, soando não menos que fantástica. Enquanto “The Exile” encerra o álbum nos dando a certeza de que estamos diante de um dos melhores discos do ano, de um artista único que merece muito mais atenção e que é infinitamente melhor a tudo que o “neo-folk” e o “alt folk” tão celebrado pelos indies por aí é capaz de nos oferecer.

httpv://www.youtube.com/watch?v=xHb6E7fMvx4

Jornalista investigativo, crítico e escritor. Publico sobre música e cultura desde 2003. Fundei a Movin' Up em 2008. Escrevi 3 livros de contos, crônicas e poemas. Venci o Prêmio de Excelência Jornalística (2019) da Sociedade Interamericana de Imprensa na categoria “Opinião” com ensaio sobre Roger Waters e o "duplipensar brasileiro" na Movin' Up.

Published in Destaques Reviews de Cds