“Lula, O Filho do Brasil” (inicialmente “O Filho de Lindu”) foi o filme mais comentado, amado e odiado antes mesmo da sua estreia (e sem ter sido visto) no país em muito tempo. Poucas vezes, também, um presidente foi tão retratado durante o seu mandato. Se “Peões” e “Entreatos”, documentários de Eduardo Coutinho e João Moreira Salles, iam no cerne dos dois principais momentos da vida política de Luís Inácio, o filme de Fábio Barreto é o épico melodramático da vida pregressa, do Lula “humano” que fecha o ciclo.
Tive a oportunidade de cobrir a estreia mundial do longa naquela que provavelmente foi a premiere mais tensa, tumultuada e disputada dos 42 anos de história do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. 17 de novembro de 2009. Teatro Nacional abarrotado com pelo menos o dobro da capacidade. Apinhado por políticos, convidados, imprensa, celebridades, populares. Manifestações inflamadas aos borbotões. Recepção morna.
A crítica completa do filme e da experiência está na quarta edição da revista Movie, que chega às bancas de todo o país neste início de janeiro. Também pude ter uma entrevista franca, ao vivo, com Glória Pires. Atenciosa, genuína, humana. Uma estrela sem megalomanias. Fascinada por interpretar Lindu, a mãe de Lula, fundamental na formação do caráter e na pessoa de Luís Inácio: tão importante que, como dito, inicialmente o longa receberia o título de “filho de Lindu”.
Glória falou sem meias palavras sobre os vícios da imprensa em analisar filmes feitos por grandes estrelas, o ranço da mídia, a experiência de retratar Lindu, o envolvimento no processo de criação, sua carreira no cinema, sua avaliação da retomada, do público, do trabalho com Fábio Barreto e muitos outros pontos. Uma entrevista que, sem dúvida, posso nutrir um orgulho autêntico de ter feito.
Também acompanhei a coletiva, com todo o elenco, após a estreia. O bombardeio de alguns dos principais jornalistas do país foi bem absorvido por Fábio e equipe. Todas as questões “nebulosas” do filme foram colocadas na mesa. Luiz Carlos Barreto, o patriarca do clã, talvez o principal produtor da história do cinema brasileiro, anunciou a aposentadoria com lágrimas nos olhos. Quis o destino que, quando “Lula” de fato estreasse em todo o país, Fábio Barreto (o diretor) estaria internado num hospital vítima de um acidente de carro.
A expectativas são altas. Estratégia de lançamento ambiciosa, a maior que já tivemos. Não há porque ser diferente. Na volta daquela sessão no Teatro Nacional, o taxista puxou conversa. “Você foi ver o filme do Lula, é?”. Expliquei que sim, que era a estreia, dei algumas impressões. Perguntei se ele estava curioso em ver. “Claro, a gente fica ansioso, né? Queria muito conhecer a história dele antes da política”. Como não poderia deixar escapar, perguntei o que tinha mudado na vida dele durante o mandato de Lula. “Olha, não posso reclamar muito. Conseguir construir minha casa própria, comprei meu próprio carro (o táxi) e consigo dar uma vida razoável para minha família. Vim do Nordeste, como ele, e estou alcançando meus objetivos aqui”.
Apenas um retrato parcial do que as infindáveis discussões sobre Lula suscitam. O amor e ódio enlouquecido da luta de classes (e sub classes) brasileira. O filme, sim, vale a pena ser visto. Por sua importância, seu peso, suas falhas.
Sobre Lula em si, o certo é que qualquer avaliação maniqueísta é automaticamente descartável. Há muitos “Lula’s” em um só. Humano como cada um de nós. O seu legado e sua história política é demasiado complexa para ser resumida a “x” ou “y” como gostam alguns.
“O Filho do Brasil” busca não exagerar uma vida já suficientemente trágica pela própria natureza. No máximo que um declarado melodrama pode fazer isso, claro. Sempre, assista e tire suas conclusões.