Skip to content →

Pra fechar 2009…

2009 foi um ótimo ano, obrigado. Não só pra mim como principalmente para a música brasileira (um dos melhores das últimas duas décadas, pelo menos) e em menor grau para a música feita nos outros lugares do globo.

No último mês a Movin’ Up foi recheada não só com listas e textos de análise sobre os melhores da década, mas também com resenhas e entrevistas de bons discos lançados em 2009. Listas, realmente, já deram no saco há bastante tempo. Sim, culpa em parte do Alta Fidelidade, Nick Hornby e essa turminha, que não sou exatamente admirador. Mas sempre vi as listas com uma função bem simples: servir de boas indicações de nova ou velha música e suscitar discussões relevantes. Claro que todas elas são falhas, pessoais, incompletas, burras, etc. Resumir a música de um ano ou (pior) década em seja lá quantos discos forem é de uma atrocidade infinita.

Contudo elas ainda conseguem ser saudáveis. Pra fechar 2009, a listinha dos 5 melhores e outras indicações.

5 melhores nacionais:

Otto – Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos

Cidadão Instigado – Uhuuu

Wado – Atlântico Negro

Romulo Fróes – No Chão Sem O Chão

Lucas Santtana – Sem Nostalgia

[outros bons lançamentos já analisados]

+ Zémaria, Céu, Numismata, Erasmo Carlos, Arnaldo Antunes.

Não dá: Lulina.

Internacionais:

Bob Dylan – Together Through Life

Them Crooked Vultures – Idem

Slayer – World Painted Blood

Mastodon – Crack The Skye

Mos Def – The Ecstatic

Fizeram bonito: Arctic Monkeys, Mars Volta, Sonic Youth, Nile, Megadeth, Heaven & Hell, Bruce Springsteen, Dinosaur Jr., Morrissey, Sunn O))).

Decepcionaram: Franz Ferdinand, Yeah Yeah Yeah´s, Manic Street Preachers, Norah Jones, Muse, Wilco.

Dos nacionais, como mostram os links, o único que não escrevi nada foi justamente o Cidadão Instigado, apontado como disco do ano por 9 entre 10 críticos, com lugar de destaque nos melhores da década, foto que ilustra este texto e capitaneado por Fernando Catatau.

Confesso que minha primeira reação ao som do Cidadão não foi positiva. É algo que demora a ser assimilado. Essa onda de “redescoberta” do brega brasileiro é, sim, superestimada. Os timbres de Catatau seguem a escola e vão além, como uma espécie de anti-guitar hero. Com o tempo, realmente não dá para ficar indiferente ao som produzido por Catatau e banda. É simplesmente bom demais no meio alternativo e mainstream brazuca para não ser reconhecido. “Uhuuu!” elenca uma série de pequenos potenciais a clássicos: “Como As Luzes”, “Doido”, “Escolher Pra Quê?” e “Deus É Uma Viagem”.

Além da banda principal, Catatau é algo como um eixo onipresente em alguns dos melhores discos e artistas da cena brasileira: das guitarras inconfundíveis do maravilhoso novo disco de Otto a Céu, Arnaldo Antunes, Instituto e até Vanessa da Mata. Se podemos dizer que algum guitarrista brasileiro criou uma forte identidade própria nos últimos anos, este é Fernando Catatau. Algo que faz muita, muita diferença. Sua mistura de música nordestina romântica, progressivo, psicodélico e rock é azeitada, única.

Lá fora, dos que não escrevi, Dylan lançou seu álbum mais “de raiz” da década (marcada por ótimas obras dele). O Them Crooked Vultures, se não criou um clássico instantâneo (longe disso), fez bonito ao juntar três mentes de gerações e influências diversas do rock. Springsteen, novidade, acertou em cheio. O Arctic Monkeys finalmente amadureceu. Wilco lançou seu pior disco (ainda bom, sim, mas claramente o menos inspirado). YYY´s e Franz Ferdinand, ao mesmo tempo em que convenceram alguns e pinçaram ótimas composições nos dois discos, saíram da curva, “experimentaram” de forma preguiçosa, modorrenta. O metal viveu ano de glória como há muito não acontecia: bandas veteranas e novas lançaram alguns dos melhores trabalhos da carreira.

2009 apenas comprova que, ao contrário do que alguns gostam de apregoar, há sempre música boa sendo feita em todos os cantos do mundo, em todos os estilos imagináveis, por gente das mais diversas origens, idades, influências. Basta gostar de música e saber pesquisar. Respeitar, compreender, assimilar e desfrutar cada coisa de valor que é feita no samba, no hip-hop, no rock, pop, metal, jazz, etc, etc. Gente que faz valer o seu tempo e sua atenção.

Em 2010 não será diferente. Certeza. Um muito obrigado a quem nos acompanha e passará a acompanhar. Há muita música para ser descoberta. O que é sempre um prazer. Um brinde a tudo de bom, sempre.

Published in Destaques Especiais