Apesar de fortemente elogiado por Caetano Veloso (“Baticum” pode ser uma indicação dessa admiração mútua) o disco “Pimenteira”, do carioca Pedro Miranda, não entrou em 99% das listas de melhores do ano passado. Sequer mereceu atenção maior por parte da mídia “alternativa” e “congêneres”. A mesma que transformou Caetano no ícone dos indies, a estranha luz guia de uma certa geração de músicos. Basta ver a ovação que os últimos discos de Caê, “Cê” e “Zii e Zie” receberam.
Pedro, egresso da tradicional cena boêmia da Lapa, antológico bairro carioca, mergulha em fontes diversas do samba: da raiz e dos clássicos a tons levemente atuais: Nelson Cavaquinho, Wilson das Neves, Rubinho Jacobina, Paulo César Pinheiro, Maurício Carrilho, Edu Krieger, Moyseis Marques. Difícil citar músicas de destaque sem cair em injustiças. “Velhice”, “Meio Tom”, “Imagem”, “Coluna Social”.
Apreciar “Pimenteira” passa necessariamente pela relação com a voz de Pedro. Não se encaixa nos vozeirões nem na malandragem, no acanhado nem no exagero. Tem um ar clássico, de vozes familiares, curtida em muitos carnavais ao mesmo tempo que exala certo frescor.
Pedro já tem estrada na noite e nos carnavais cariocas, participando do grupo “Cordão de Boitatá” e “Semente”. “Coisa Com Coisa”, seu disco anterior, já havia sido bastante elogiado. “Pimenteira” é outro passo em direção ao reconhecimento.
Obra que não sai de alguém da linhagem aristocrática da MPB nem soa como um músico querendo passar aquilo que não é. E só por isso Pedro Miranda já sai com muitos pontos a favor. O outro é o talento inegável de quem consegue agradar desde os mais despretensiosos até os mais exigentes.