Não dá pra negar que dentre essa “nova onda de cantoras da MPB” há talentos que fazem boa música, merecem o espaço e tem seus momentos. Algumas já elogiei aqui, como Tiê. Outras, como Céu, Mariana Aydar e Marina De La Riva, gosto de algumas coisas.
Por outro lado, boa parte são filhas de ícones do passado e/ou vem de família rica. Flertam com o indie. Quase todas branquinhas esquálidas, mais ou menos simpáticas, de voz, corpo e personalidade dúbia. Com o mesmo apelo de….deixa pra lá.
Dhi Ribeiro é uma “revelação” que já acumula vinte anos de carreira. Nos bares e nas noites da vida. Carioca, criada em Salvador e radicada em Brasília, Dhi é mulher de verdade. Seu samba e seu estilo é automática, proposital e mercadologicamente ligado à Alcione. Com razão. A voz exibe a potência e desenvoltura que a natureza reservou aos negros. As letras são adultas, despudoradas e, vez por outra, falsamente ingênua como deve ser. Romantismo mezzo trágico mezzo independente.
“Para Uso Exclusivo da Casa” é o abre-alas de “Manual da Mulher“, primeiro álbum solo lançado em 2009. Belíssimo samba que conquistou ouvintes na internet e em programas de TV (como Faustão) para o trabalho de Dhi. Dos mesmos autores (Paulinho Resende e Juninho Peralva) de alguns sucessos de Alcione. Paulinho também contribui com a faixa título. É território de samba forte, sensual, de afirmação do poder da mulher na simples tomada de sua verve sexual natural.
O próprio nome do disco, “Manual da Mulher”, assume tom de força motriz, de movimento, cara a tapa. A voz deliciosa de Dhi cresce em faixas como “Arsenal de Ilusões”, brilhante samba de tons românticos. Sempre se equilibrando no limite dos clichês, da pieguice, quase sempre com ótimos resultados.
Quando carrega no tom, é tão cativante que somos tentados a perdoar: “Doidice”, por exemplo. “Marujada”, de Noca Portela e Toninho Nascimento, entra na roda, enquanto “Benza Deus” (Luiz Carlos da Vila e Moacyr Luz) e “Aqui Do Seu Lado”, Rildo da Hora e Luciana Cardoso, fazem mais que bonito.
Enfim, uma mulher de verdade no samba.