Pouquíssimas bandas conseguiram alcançar o status que o Carcass atingiu. Precursores do “gore”, “splatter” e temas relacionados, a banda foi “refinando” seu som até chegar em níveis absurdos não só de técnica – essa característica tão excessivamente adorada no metal – mas principalmente de qualidade.
A trilogia composta por “Necroticism”, “Heartwork” e “Swansong” – para não falar no quão relevante foram os dois primeiros – fizeram com que o Carcass fosse uma das bandas mais influentes da história do death metal – tanto da sua versão mais extrema quanto da mais “melódica”, como se convencionou chamar na segunda metade dos anos 90 em diante. O melhor paralelo para os ingleses talvez seja o Death de Chuck Schuldiner (entrando na conta também o Control Denied).
Separada em 1996, os integrantes seguiram na indústria musical até que Jeff Walker e Bill Steer decidiram se reunir em 2007. E lá se vão quase 6 anos de apresentações ao vivo até chegarmos ao novíssimo disco, “Surgical Steel”.
E posso afirmar com convicção: a obra é um dos melhores álbuns de metal extremo lançados em muito, muito tempo. Que delícia é ouvir o Carcass de volta, que privilégio é ver que eles não perderam em nada a pegada, a qualidade, a capacidade de burilar melodias complexas em estruturas trabalhadas na beira da perfeição.
httpv://www.youtube.com/watch?v=rObpx4GdpkQ
Depois de trocentos anos ouvindo metal extremo e principalmente considerando a febre do “metalcore” que tanto assola o meio não é de hoje, trazendo com ela o padrão de toneladas de riffs cuspidos por segundo, blast beats à exaustão, produções que superam a apelação da “guerra do volume” – gerando aquele som gordo, altíssimo e artificialmente pesado, em que se perde muito dos detalhes, saiba mais aqui – é um prazer ver que o Carcass coloca tudo no lugar novamente.
De “Cadaver Pouch Conveyor System”, passando pela estupenda “The Granulating Dark Satanic Mills”, na pedrada mais seca de “Captive Bolt Pistol” até o corolário de “Mount Of Execution”, o Carcass dá uma nova aula magna de metal extremo.
Aqui não é só atletismo, velocidade, vocal rasgado. A parede sonora da banda é rica e variada como a de poucos. Os solos são de qualidade inegável, a base não está ali de enfeite, a bateria não é monotemática, os riffs conversam com você e o som é quente, vivo. Não é uma maçaroca que se pretende ultra pesada, feita por gente que tem pouquíssima noção de harmonia, melodia e ideias tão rasas quanto um pires.
“Surgical Steel” é um novo clássico instantâneo, de uma banda totalmente incapaz de produzir algo menos que relevante e único.