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“Side Effects”: a despedida de Steven Soderbergh?

De “Sexo, Mentiras e Videotape”, sua estreia em longas-metragens, lançado em 89 até este “Terapia de Risco”, anunciado por ele mesmo como uma possível despedida do cinema, Steven Soderbergh construiu uma carreira em filmes repletos de elos comuns. Sobretudo as obsessões, taras, paranoias, drogas, conspirações, medo, sexo, etc. No meio dos milhões que captou com a série “X homens e X segredos”, Soderbergh ainda resolveu levar a história de Che Guevara para as telas em dois filmes, trouxe Sasha Grey para o cinema “padrão” e se arriscou em filmes pouco inspirados.

“Side Effects”, portanto, se for mesmo a despedida do diretor, pelo menos terminará a carreira em alta com um thriller psicológico tenso e claudicante, naquela típica trama em que “nada é exatamente o que parece ser”. Parece um ataque à indústria farmacêutica, seu marketing fácil e abusivo, suas promessas de felicidade encaixotada, o lobby que pratica diretamente com os médicos, usando pessoas recrutadas “voluntariamente” para testar novos produtos, parece um daqueles roteiros do “mal estar geral da civilização”, do casal desajustado, dos meandros sórdidos do mercado financeiro, das promessas quebradas e sonhos despedaçados, de desejo reprimido, paranoias. É tudo isso e não é.

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O quarteto formado por Rooney Mara – incrível como essa menina consegue se transmutar de um papel para outro, especialmente após ter encarnado Lisbeth Salander na adaptação de David Fincher – Channing Tatum, Jude Law e Catherine Zeta-Jones (atriz fetiche para Soderbergh) formam um eixo interessante, pouco óbvio, com ótimas atuações – até tinha esquecido que Jude Law pode ser um bom ator – valorizadas pelo roteiro inventivo de Scott Z. Burns.

A fotografia busca incessantemente esse clima Hitchcock/Polanski, sem carregar demais. De certa forma, Soderbergh reúne aqui boa parte do que abordou em sua carreira, nessa espécie de piscadela para a aposentadoria que eu acho difícil que se confirme. Falar muito sobre “Side Effects” é estragar o potencial da trama. Se não brilhante, é uma das melhores abordagens a este universo em tempos recentes.

Jornalista investigativo, crítico e escritor. Publico sobre música e cultura desde 2003. Fundei a Movin' Up em 2008. Escrevi 3 livros de contos, crônicas e poemas. Venci o Prêmio de Excelência Jornalística (2019) da Sociedade Interamericana de Imprensa na categoria “Opinião” com ensaio sobre Roger Waters e o "duplipensar brasileiro" na Movin' Up.

Published in Cinema