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Justin Timberlake: novamente certeiro

“FutureSex/LoveSounds” carregou três grandes hits: “SexyBack”, “My Love” e “What Goes Around…Comes Around”. O disco, em si, foi saudado como uma espécie de clássico instantâneo, uma gratíssima surpresa de um cara que ninguém esperava absolutamente nada, já que era só um ex-membro de uma temerosa boy band como o N’Sync e “Justified”, a obra anterior de 4 anos antes, também não era exatamente uma maravilha. Assim, Justin Timberlake passou do frenesi adolescente à uma carreira admirada pela crítica e por um público mais “maduro”.

No panteão do pop, teve tempo de fazer o que bem entendesse. Dedicando mais tempo para a carreira de ator, geralmente se envolveu em projetos de qualidade duvidosa (aqui está uma boa ideia disso), salvo por sua participação em The Social Network e, pra mim, Alpha Dog. Eis que ele resolve voltar para a música novamente escorado em Timbaland, um dos midas da música pop na última década e grande responsável pelo sucesso estrondoso de Timberlake.

httpv://www.youtube.com/watch?v=IsUsVbTj2AY

Daí que “The 20/20 Experience” é, sim, um ótimo exemplar do que se esperava de JT.  7 anos não é pouco e 7 anos para a música pop é uma eternidade. A sonoridade gorda da parede de ritmos, batidas e truques montada por Timbaland ganha pontos à medida que tem espaço pra respirar. “Suit & Tie” veio ancorada por Jay Z, outro nome certo se você quiser ir direto pro topo dos charts. Além de talentoso e competente, JT sempre foi muito esperto em escolher os parceiros com quem trabalha, tanto em termos de marketing quanto de som, e eis aí outra qualidade importante.

E se é algo que o novo disco é, é um golpe bem arquitetado. Como são as grandes obras desse pop de alto consumo hoje e sempre. E não há nenhum demérito nisso. Na máquina processadora vintage interminável que ouvimos todos os dias, Timberlake consegue fazer o seu guisado muito bem. “Let The Groove Get In” é ótimo exemplo disso. Quem diria que o melhor emulador de Michael Jackson em 2013 seria…JT. Mas é.

httpv://www.youtube.com/watch?v=KHsrWuYomiI

Timothy Mosley, o principal compositor de “FutureSex/LoveSounds” ao lado de Justin, agora divide os créditos também com James Fauntleroy e Jerome Harmon, gente envolvida com Frank Ocean, Pet Shop Boys, Rihanna e os próprios Jay Z e Timbaland nos últimos anos, além de nomes menos abonadores, como Chris Brown e Demi Lovato.

A pegada de “Strawberry Bubblegum” e “Tunnel Vision”, retrôs até o osso, são um deleite nessa máquina do tempo brega, cafona e azeitada. É soul modernoso safado, AOR para as pistas, batidinha forjada em estúdio de 100 milhões, decadência elegante, belos exemplares de uma época em que tudo já foi inventado, testado, imitado, regurgitado, recortado, colado e envernizado. É isso que a música de JT é. E bem acima da média. “That Girl” é Stevie Wonder purinho, naturalmente “atualizado”.

Já “Mirrors” é uma sobra tão descarada do disco anterior que quase irrita, mas acaba te conquistando também. A abertura pretensamente épica, pulsante e “smooth” de “Pusher Love Girl” termina na ressaca chill-out de “Blue Ocean Floor”. “The 20/20 Experience”, adivinhem, busca dar essa amplitude, essa ideia de happening completo. Moldado e pensado para as pistas, para festas privadas e para ressacas físicas e morais.

httpv://www.youtube.com/watch?v=MWd4BJRExNw

“Don’t Hold The Wall” eleva essa sensação auto-indulgente, excessiva e lasciva que permeia todo o álbum. As músicas ultrapassam fácil os 7 minutos, motivo para críticas fáceis mas que, pra mim, não compromete. Justin, no seio do negócio, ainda consegue subverter a lógica dos 3 minutos, coisa que já tinha feito, em certa medida, com o disco anterior.

“The 20/20 Experience” é dançar equilibrando um negroni na mão. É quando você vai naquela festa meio metida a besta, do underground bem vestido, do hype de pau duro e termina estragado na manhã seguinte.  Nada nada, Timberlake produziu outro disquinho delícia para embalar noites mundo afora. A única mancada de JT é tentar ressuscitar o MySpace. Coisa que nem esse álbum é capaz.

Jornalista investigativo, crítico e escritor. Publico sobre música e cultura desde 2003. Fundei a Movin' Up em 2008. Escrevi 3 livros de contos, crônicas e poemas. Venci o Prêmio de Excelência Jornalística (2019) da Sociedade Interamericana de Imprensa na categoria “Opinião” com ensaio sobre Roger Waters e o "duplipensar brasileiro" na Movin' Up.

Published in Destaques Reviews de Cds