Skip to content →

Mais “melancólicos”, argentinos do Onda Vaga chegam bem ao terceiro disco

Reunidos nas praias de Cabo Polonio, no Uruguai, Nacho Rodriguez (cuatro e violão), Marcelo Blanco (trompete e violão), Marcos Orellana (cajón peruano) e Tomás Justo Gaggero (guitarra criolla), que vem da cena rock de Buenos aires, fundaram o Onda Vaga, que logo ganhou a adição de Germán Cohe (trombone e percussão). O primeiro disco, “Fuerte Y Caliente”, de 2008, apresentou uma ótima coleção de canções calcadas na mistura de “rumba-cumbia-reggae-folk-rock”, segundo os próprios. Uma das melhores e mais vibrantes obras de estreia na América Latina em tempos recentes.

Rapidamente o grupo chamou atenção da crítica especializada e começou a angariar público por onde passava, em toda a América Latina. Com o segundo álbum, “Espíritu Salvaje”, de 2010, excursionaram pelo Brasil (Belo Horizonte, Campinas, São Paulo, Rio de Janeiro) e também pela Europa. Ali, já com a ambição elevada, as músicas perderam velocidade e ganharam novos contornos, gerando um disco mais irregular.

httpv://www.youtube.com/watch?v=n7UEr8Oitqo

“Magma Elemental”, o novíssimo álbum, segue nesse caminho. Com tons mais “melancólicos”, a fusão do Onda Vaga soa menos empolgante mas, ainda assim, pra lá de azeitada. Mergulhados na tradição dos instrumentos que carregam e evitando a eletrificação do som, o quinteto mantém o ótimo revezamento de vocais, a verve “roqueira” e as diferentes influências que trazem dos seus diversos projetos paralelos.

“Tataralí” é a típica abertura e a que mais se aproxima das primeiras gravações da banda. “La Ronda” e “El Fantasma” diminuem a voltagem mas revelam a constância da qualidade das harmonias do grupo, recuperando o fôlego com “En Cueros”. É difícil não se encantar com a música do Onda Vaga, já que parecem a trilha sonora perfeita tanto para festas quanto para aquela ressaca do dia seguinte. Tem cheiro de praia, vocação para a estrada e não soa datada como poderia. Pelo contrário. “Revolución” é um deleite.

httpv://www.youtube.com/watch?v=k3Vy5zZzz-U

“Kari se va” é a balada principal do disco, arrastada e sentimental. A pegada inicial da banda aparece com mais ênfase na parte final do álbum: a sintomática “A La Mierda”, com os versos A veces tengo ganas de mandar / a todo el mundo a la mierda / Porque no están de acuerdo conmigo / porque no me dan tregua, a la mierda tem pinta de nova queridinha do repertório em shows, com justiça.

“Cuadradito” e principalmente “Forma de Mujer” e “Como un niño” encerram “Magma Elemental” em alta. Com menos sede que no início, o Onda Vaga chega ao terceiro álbum com uma carreira consolidada e tudo para seguir crescendo com competência.

Jornalista investigativo, crítico e escritor. Publico sobre música e cultura desde 2003. Fundei a Movin' Up em 2008. Escrevi 3 livros de contos, crônicas e poemas. Venci o Prêmio de Excelência Jornalística (2019) da Sociedade Interamericana de Imprensa na categoria “Opinião” com ensaio sobre Roger Waters e o "duplipensar brasileiro" na Movin' Up.

Published in Reviews de Cds