São muitos os caminhos compartilhados pelos noruegueses do Ulver e pelos americanos do Sunn O))) em suas carreiras. Enquanto o Ulver emergiu do black metal tradicional, posteriormente desenvolvendo seu som para algo muito mais experimental e eletrônico, incluindo aí vertentes diversas em discos que exploram coisas distintas, o Sunn O))), já nos anos 00, chegou como um pilar do drone metal e do noise, mergulhando fundo em texturas sombrias e fantasmagóricas, repetitivas, lentas, a verdadeira trilha sonora do apocalipse (um clichê que, aqui, se aplica perfeitamente).
Guardando tantos elementos estéticos e sonoros em comum, parece um caminho natural que Greg Anderson e Stephen O’Malley tenham se aproximado do Ulver em tempos recentes, incluindo uma participação em um show na Noruega em 2008 e outras viagens, que evoluíram para experimentações no estúdio Crystal Canion, dos noruegueses, que deu origem a isto aqui.
“Terrestrials”, portanto, soa como legítimos exercícios de admiração de músicos com aspirações e influências semelhantes. Por vezes, caindo na inevitável auto-indulgência, como nos 12 minutos de “Let There Be Light”. São ideias trabalhadas no “dark ambient” que conhecemos tão bem, incluindo aí outros tantos termos relacionados que você quiser. Não é brilhante e não é acima da média, como não raro ambas as bandas conseguem fazer, mas extremamente bem feito, podendo servir como “porta de entrada” para quem se interessar pelo estilo.
httpv://www.youtube.com/watch?v=7MQr-o4PFzk
A sugestiva “Western Horn” delimita um certo rosnar agudo e vazio, caminhando entre a penumbra formada por guitarra, teclado e trompete (etc), criando um clima gélido e surrealista, no máximo que o termo pode ser aplicado. “Eternal Return”, que traz no título o conceito propagado por Nietzsche, resmunga uma miríade de paisagens mitológicas e na verdade é minha favorita do disco.
É a mais “progressiva” do trabalho, prima distante dos primeiros anos do Pink Floyd. A despeito, repito, da minha mania de ver Pink Floyd em tudo, mas fato é que “Set The Controls For Heart Of The Sun”, “Careful With That Axe, Eugene” e trabalhos como “A Saucerful Of Secrets”, “More” e “Ummagumma” reservam muito da origem do som que bandas como estas fazem hoje em dia, fundidas com o metal do Bathory, seus próprios anseios, desenvolvimentos e influências, que não são poucas.
“Eternal Return” eleva o nível do álbum. Seu senso de progressão e sua mudança de estrutura a partir da entrada dos vocais, aos 7 minutos, é de uma beleza cortante, típico exemplo de conceito bem trabalhado e bem executado. “Terrestrials”, em suma, não é capaz de explorar a força máxima de nenhum dos compositores envolvidos, ainda assim consegue marcar um horizonte indefinido, exercícios de admiração e aproximação de conflitos e similaridades que, pra variar, poucas classificações conseguem dar conta.