Por Paulo Floro, da Revista O Grito!
Quem disse que o intercâmbio São Paulo – Bahia – Japão não daria samba? O novo disco de Rodrigo Campos, Conversas Com Toshiro é uma desses momentos em que o samba lembra que é um gênero vivo e aberto a possibilidades criativas ousadas e experimentação.
O Japão do novo disco de Campos é vista pelas lentes do cinema. Em seu terceiro disco solo ele viaja ao Oriente em busca de uma estética japonesa vista nas lentes de nomes como Wong Kar-Wai, Toshiro Mifune (1920 – 1997), Hayao Miyazaki e Takeshi Kitano, todos homenageados em faixas no disco. Na rota iniciada com o disco São Mateus Não É Um Lugar Assim Tão Longe (2009) e continuado no ótimo Bahia Fantástica (2012), Campos vai re-imaginando o Brasil através de sua riqueza de influências e sonoridades.
Neste novo trabalho, Campos investiga a sabedoria oriental para falar sobre amor, morte, sexo e desejo. E o Japão, assim como o Brasil, é múltiplo, com referências ao pop nipônico, esoterismo, mangá erótico e sabedoria zen. Este intercâmbio Oriente e Ocidente rendeu um dos álbum mais instigantes no que diz respeito à sonoridade. Há o samba ao avesso “Wong Kar-Wai” e “Takeshi e Asayo”, com vocais de Juçara Marçal e Ná Ozzeti, ou uma levada mais tradicional em “Abraço de Ozu”. Falando nas cantoras, Campos faz bom uso das convidadas dado o seu baixo alcance vocal, o que acaba funcionando bem.
Campos ainda explora o sexo e o gozo nas ótimas “Dois Sozinhos” e “Katsumi”, que são belamente descritivas e diretas como a boa poesia japonesa. O disco traz ainda “Velho Amarelo”, que já tinha aparecido no clássico disco de Juçara, Encarnado, mas que aqui ganha uma roupagem mais orquestrada e menos crua. Disco inquieto, Conversas Com Toshiro provoca o ouvinte a passear por paisagens visuais ao mesmo tempo em que aborda questões transcendentais, universais. É mais um belo item da excelente fase da cena paulistana atual.