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Academia da Berlinda segue envernizada e afiada em “Nada Sem Ela”

Demorou, mas finalmente a Academia da Berlinda chega ao terceiro disco, 5 anos após o ótimo “Olindance”. Mantendo a mesma formação – Tiné, Urêa, Rabid, Melo, Gila, Naguê e Rocha – músicos que tocam/tocaram em outras bandas da cena pernambucana como Eddie, Mundo Livre S/A, Nação Zumbi, Orquestra Contemporânea e por aí afora, “Nada Sem Ela” é mais um ótimo disco da mistura que se propõe: frevo, coco, maracatu, cavalo marinho, ciranda, forró, cumbia, afrobeat e carimbó, segundo os próprios. Desta vez, contaram com as participações de Otto, Lia de Itamaracá, Fábio Trummer e outros.

Seguindo a fórmula, é música para dançar agarradinho, com a proposta de ser leve e divertida, gostosa, quente, “envernizada”. No texto de 2011, quando tive a oportunidade de vê-los tocar em casa, em Recife, escrevi:

“No primeiro disco (de 2007) já era evidente o tempero caprichado dos rapazes, entregando pepitas banhadas em ritmos brasileiros e da América Latina e Central com uma pitada de rock, um acentinho cubano acolá e uma baita personalidade própria no uso de instrumentos como o micro korg e as percussões, além das letras deliciosamente simples e contagiantes.”

Nessa toada e pra quem gosta do riscado, não tem erro. “Pra me perder no seu cheiro, na sua malemolência, só não pode virar dependência” cantam em “Agora Já Era”, uma das que se destacam no trabalho. “Só de Tu” começa bem e outros destaques pra mim são “Nego Nervoso”, “Dorival” (excelente homenagem a Dorival Caymmi e que tem um dos meus versos favoritos  -“Dorival, vai não, vai não, tá cheio de tubarão no mar…”), “Mãos Dadas”, “Corpo Elétrico” e a swingueira nervosa de “Carro do Gás”, que encerra a peleja.

O longo tempo de produção entre um disco e outro a experiência acumulada de palco de mais de 10 anos fazem diferença. Segundo a banda, “Nada Sem Ela”, como o nome entrega, é banhado de referências ao universo feminino, ao romance e ao flerte, algo já bem marcante no trabalho da Academia. O fator replay do som do grupo é um grande trunfo a favor: a exemplo dos anteriores, é um disco que dá vontade de ouvir várias e várias vezes, depurando melhor os detalhes, as harmonias, o uso de instrumentos e a ênfase em cada estilo dada a cada faixa.

O disco está disponível para download gratuito no site oficial e também em todos os serviços de streaming. A banda faz show de lançamento do álbum dias 29 e 30 de julho no SESC Pompéia em São Paulo e deve realizar turnê nacional em várias capitais a confirmar.

Jornalista investigativo, crítico e escritor. Publico sobre música e cultura desde 2003. Fundei a Movin' Up em 2008. Escrevi 3 livros de contos, crônicas e poemas. Venci o Prêmio de Excelência Jornalística (2019) da Sociedade Interamericana de Imprensa na categoria “Opinião” com ensaio sobre Roger Waters e o "duplipensar brasileiro" na Movin' Up.

Published in Reviews de Cds