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Família Lancellotti e uma viagem pelo Rio de Janeiro

Oportunidade rara que o projeto “Filho de Peixe”, na Caixa Cultural, trouxe para Brasília na última semana: famílias no palco. E numa programação que teve Dona Hilda e Teresa Cristina, Moraes Moreira e Davi Moraes, Monarco e Juliana Diniz, conferi o último show da iniciativa: Ivor Lancellotti, compositor clássico do samba e da mpb que, além da carreira solo, foi gravado por Clara Nunes, Roberto Carlos, João Nogueira, Nana Caymmi e muitos outros, Alvinho Lancellotti, vocalista do Fino Coletivo e também com discos solo e Domenico Lancellotti, que além das colaborações com outros artistas ficou conhecido pela tríade formada com Kassin e Moreno Veloso, lançando os ótimos “Sincerely Hot” e “Cine Privê”.

No pequeno e aconchegante teatro da Caixa, o palco decorado com “luminárias” e clima intimista, pouco público, a sensação era de um certo privilégio e assim foi. As primeiras músicas foram dedicadas para a carreira de Ivor, quando desfilou pérolas como “Bela Cigana”, gravada por Clara e J. Nogueira, “Sem Companhia” (Clara), “Rastro de Perfume” (Nana e Paulo César Pinheiro) e “Abandono” (Roberto).

httpv://www.youtube.com/watch?v=MpFuSkGrmpM

“O Tempo Faz a Gente Ter Esses Encantos”, disco que Alvinho lançou em 2012 (e que você pode fazer o download grátis no site oficial) foi a grande base do show. E felizmente o álbum é ótimo: “Sexta-Feira” é uma belezura de canção, e essa vocação para produzir sambas arejados, com um ritmo próprio mas não preguiçoso, alternando ritmos e melodias, cresceu bastante no formato. Caso de “Alegria da Gente” e “Vidigal”, que faz uma viagem pelas paisagens do Rio de Janeiro, “Antena” e “Autoajuda”. Alvinho mostra que tem muito a oferecer para além do Fino Coletivo, pra sorte nossa.

httpv://www.youtube.com/watch?v=Pj016qITMcs

“Em Boas e Mais Companhias”, álbum de 2011 de Ivor (completo aqui), apareceu com as parcerias com os filhos: “Sete e Meia”, escrita com Alvinho e seu clima de baião e “Pelos Ventos”, com Domenico. E dele veio “Te Convidei pro Samba”, faixa de “Sincerely Hot” que diz muito da “estilera” do cara, o mais “vanguardista” dos 3, de longe,  mesmo caso de “Alegria Vai Lá”, “Aeroporto 77” e “Cine Privê”.

O bis, caprichado, teve “Pedra e Areia”, de Domenico e “Boa Hora”, parceria de Domenico e Alvinho para o Fino Coletivo que expressa perfeitamente o espírito da música dessa família. Entre uma música e outra, muita conversa entre os 3, contando um pouco da história por trás das composições, da própria vida, reminiscências, humor. Depois de 2 horas de show, os poucos presentes tiveram a certeza que, de fato, uma quinta-feira despretensiosa não poderia dar presente melhor.

httpv://www.youtube.com/watch?v=h3J6tOYjavk

Jornalista investigativo, crítico e escritor. Publico sobre música e cultura desde 2003. Fundei a Movin' Up em 2008. Escrevi 3 livros de contos, crônicas e poemas. Venci o Prêmio de Excelência Jornalística (2019) da Sociedade Interamericana de Imprensa na categoria “Opinião” com ensaio sobre Roger Waters e o "duplipensar brasileiro" na Movin' Up.

Published in Reviews de Shows