A década passada ainda está quente, reverberando. E a obsessão com listas é manifesta numa ânsia de traçar um mapa musical completo de uma época, o estado de espírito de uma geração. Muito do que nos afetou, teve impacto, peso. Pra quem está na casa dos 25-30, a última década foi, também, a primeira em que podemos acompanhar com certa maturidade musical e de observação. A primeira em que vivemos efetivamente um novo momento.
Creio que esta lista diz muito das transformações sociais, econômicas e comportamentais dos últimos 10 anos. Não é pouca coisa. Radiografar a alma de um período é tarefa que me fascina, encanta. Que me debruço com a consciência de estar falando muito de mim mesmo. Dos meus amigos, do meu tempo.
Serve, finalmente, para mostrar a quantidade de grupos excelentes que se desenvolveram e surgiram nesta década, em todos os estilos possíveis. Em meio a trabalhos de gente consagrada dos anos 90, de décadas anteriores e de “comebacks” memoráveis de dinossauros: Solomon Burke, Al Green, Allman Brothers, Iron Maiden, King Crimson, Van Der Graaf Generator, Bob Dylan, U2, etc.
Pra quem insiste em ignorar a música contemporânea, nomes como My Morning Jacket, Wilco, Ray LaMontagne, White Stripes, MIA, Queens Of The Stone Age, Erykah Badu, Outkast, Mars Volta, Arcade Fire, Muse, TV On The Radio, Josh Rouse, Flaming Lips, Spoon, YYY’s, Broken Social Scene, Mastodon, Regina Spektor, Robert Glasper, Alcest e tantos outros falam por si só.
Sem esquecer da música eletrônica, talvez o caldo mais óbvio do turbilhão moderno: o XTMNTR do Primal Scream, LCD Soundsystem, Autechre, Coil, Boards of Canada, Stars of The Lid, Tim Hecker, Four Tet, Gas, Daft Punk, Burial, The Field, The Bug, DJ Shadow. Alguns fruto direto da década, outros desenvolvendo o trabalho começado nos anos 90.
Tem muita música negra, brasileira, metal, hip-hop, songwriters, punk, instrumental, jazz, rock, indie, progressivo, etc. Parte da radiografia do mundo nos últimos 10 anos está ali. Os 200 álbuns escolhidos são, praticamente, minha psicanálise, meu mapa astral, minha alma.
Que sirva, como imagino, para trocar referências e possíveis descobertas. Há poucos prazeres tão belos quanto descobrir uma banda que fala diretamente a parte do que você é.