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Moby: fazendo justiça

O bom mocismo de Moby não deve ser empecilho para aproveitar a música que ele compõe: o paradoxo está aí, simulando uma gárgula, com camisa do Cramps, nas fotos de divulgação do – ótimo – “Last Night”. Fazendo justiça, se você olhar para os últimos 20 anos da música eletrônica, não é exagero afirmar que Moby está entre os 5 principais artistas do gênero. O que por si só é muita, muita coisa.

As razões para tanto são exemplificadas no show que o nova-iorquino fez, de graça, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, para um público estimado em 30 mil pessoas, durante a atual turnê, que passa por 5 cidades brasileiras. Com banda completa – tocando guitarra, percussão, cantando – duas backing vocals, baixo e violino – a música plural de Moby se realiza. House, rock, pop, soul, techno, punk, funk. Seus 9 álbuns de estúdio e outros remixes, projetos, etc, ajudaram a moldar a música eletrônica, com uma das obras mais diversificadas, acessíveis e coesas do gênero.

Com um repertório riquíssimo, 1 hora e meia de show parece pouco para dar a medida exata do seu alcance, e realmente é. Moby pode se dar ao luxo de, por exemplo, começar a apresentação já com “Extreme Ways”, uma das melhores da carreira, a peça eletro-pop perfeita, icônica e ácida. No percurso, duas covers: “Walk On The Wild Side”, de Lou Reed e, sim, “Whole Lotta Love”, já no final, em versão naturalmente incendiária.

Como nos discos, as cantoras que acompanham Moby são fundamentais, seja nos backings ou nos vocais principais. “Why Does My Heart Feel So Bad?”, estupenda com show de Inyang Bassey, “Flower”, “Porcelain”, “Natural Blues”, o refrão grudento de “We’re All Made Of Stars”. Os momentos dançantes e acelerados não ficam atrás: “Bodyrock”, “Disco Lies”, “Raining Again”, “The Stars” e “Feeling So Real” garantiram a festa.

Tem um pouco de tudo e tudo com qualidade, bem-feito, com talento e pegada. Não é a mistura gratuita e forçada, mas coisa de quem sabe e consegue transformar isso em composições certeiras, cruas ou lapidadas. O que mais gosto em Moby, talvez, é a maneira precisa como coloca o soul dentro do eletrônico, virtude sempre fundamental em seus discos.

É um cara que, no fim, conhece e entende muito de música. É apaixonado por ela. De todos os gêneros. E tem personalidade e talento suficiente para transformar isso em algo único. Fim do show é a certeza de conferir um artista diferenciado, que proporciona uma gama considerável de momentos diversos dentro de uma apresentação e que merece toda a atenção e reconhecimento possível.

Moby Setlist Museu Nacional da República, Brasília, Brazil 2010, Wait For Me Tour

Published in Destaques Reviews de Shows