Na última semana, Wado, catarinense de nascimento e alagoano de coração, aportou em Belo Horizonte para mais um show, dessa vez divulgando seu disco mais recente, Atlântico Negro, na décima edição do festival Conexão Vivo.
Na mesma noite, enquanto os ingleses do Placebo borravam a maquiagem com seus hits em um lado da cidade, do outro lado estava um Parque Municipal abarrotado de pessoas em busca de boa música (não que o Placebo não seja). Talvez uma música mais humana e menos andrógina que os gringos. E lá estava o catarinense/alagoano para uma apresentação ao ar livre, em um parque em meio à selva de concreto de uma grande cidade por volta de 23h. Céu limpo, grama, árvores, clima agradável. O cenário estava a favor de Wado. Faltava ele fazer sua parte. E arma pra isso ele tem: música.
As pessoas em frente ao palco principal demonstravam que o show certamente era o mais aguardado da noite. Wado já não é um desconhecido. Tem o público que o acompanha. Além dos curiosos e perdidos na noite, claro. E o fato dele ter um público fiel vem de uma discografia bem regular, senão uma das mais bem sucedidas artisticamente na primeira década deste século no Brasil. Para fazer um pequeno apanhado do que foi apresentado durante o show, podem ser citadas uma das mais emblemáticas para a carreira do músico, “Tarja Preta”, a bela “Fortalece Aí”, a gostosa “Se Vacilar O Jacaré Abraça” e a audaciosa e ao mesmo tempo despretensiosa “Teta”. Além da atual “Rap Da Guerra Do Iraque”.
Culpa de uma discografia linear, qualquer canção citada por ter marcado presença em um show do Wado pode soar de bom tamanho. Já que o repertório disponível permite tal afirmação arriscada. Afirmação fora da realidade de tantos outros artistas brasileiros.
Por ser um festival, já era de se esperar que o show não fosse tão extenso. Mas pelo tempo que durou, cerca de 40 minutos, deu para observar boa parte do público cantando canções do início ao fim, outros marcando presença em um refrão aqui e um verso alí. Além dos iniciados, que parecem ter aprovado, já que dançaram boa parte das músicas de um show orgânico que ganhou outros contornos a céu aberto. Wado tem sangue negro, sangue de mistura. Wado tem suingue pra chacoalhar e fazer os outros balançarem ao som de sua música, sua mistura de ritmos que pode ser pop, rock, axé, samba, MPB. Mas no final é apenas música. E isso não é pouco.