Erykah Badu conquistou o posto de uma das rainhas do neo-soul com “Baduizm”, de 97 e “Mama’s Gun”, de 2000. Título justo. A menina que cresceu ouvindo os maiores ícones da música negra da década de 70 e 80 conseguiu processar toda essa influência numa roupagem moderna porém equilibrada, potencializada pela voz de tonalidade suave e áspera. Sensual no limite do clichê. Os 5 anos que separaram “Worldwide Underground” – 03 – de “New Amerikah: Part One (4th World War)” – 08 – fizeram com que Erykah caísse em algumas armadilhas evitadas até então.
Ou, melhor dizendo, que tomasse um rumo que até ali era mais orgânico, fluido, de atmosfera densa mas direta. O super elogiado “Part One” é um bom álbum, sim. Mas Badu cobriu sua música de um ultra-bass onipresente, de uma camada eletrônica espessa e exagerada, nem sempre funcionando a favor da composição, além de mergulhar no hip-hop repleto de batidas fortes e tempos variados. Um dos problemas da discografia de Erykah sempre foi, também, o aspecto penoso, chato e repetitivo que os discos tomavam até certo ponto.
Este “The New Amerykah Part II: Return Of The Ankh” de certa forma retira os excessos do antecessor, o que por si só é o suficiente para deixar a música de Erykah relevante e merecedora de atenção. “Window Seat”, o primeiro single, que gerou “polêmica” em seu vídeo (graças ao puritanismo yankee), pode ser visto no site oficial e é exemplo do melhor que ela produz. Boas chances de ser uma das músicas de 2010.
“Turn Me Away”, “Umm Hmm” e “Out My Mind, Just In Time” são outros bons momentos de um disco que dialoga com sua discografia absorvendo um pouco de cada obra e buscando cometer o mínimo possível de ‘pecados’. “Gone Baby, Don’t Be Long”, com samplers de McCartney, começa o repertório que diminui a qualidade do disco e chega até a irritar pela repetição. “Love” e “Fall In Love (Your Funeral)” completam a trinca. Felizmente, “Incense” e a já citada “Out My Mind” encerram no ápice.
No fim, “New Amerykah: Part II” é um disco irregular. Mas melhor que o anterior. Dentro dos caminhos deliberadamente tortuosos da série “New Amerykah”, Badu acerta mais que erra. Superior a quase todas do estilo, atualmente. Mas ainda deixa um gosto estranho na boca. Gosto de que pode mais, muito mais. Como já mostrou antes e o como o delicioso encerramento de 10 minutos deste álbum entrega.