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Os medalhões ainda mandam?

Sempre evitei cair nesse senso comum nostálgico de que “tudo que era feito antigamente era melhor”. Não, não era. Tendemos a olhar para o passado com óculos encantados quase intransponíveis. Há centenas de bandas surgidas nos últimos 10 anos fazendo música ótima, sim. Belo exemplo disso – e algo que ressaltei na época – é a minha lista de 200 discos da década passada. Mas anos como este 2010 fazem pensar: quem é que ainda manda na música mundial?

Mandar, aqui, não é ser o mais popular e o que mais vende. A música pop é uma máquina esperta o bastante para conseguir colocar novos nomes no topo sempre. Nessa ótica, Lady Gaga, Justin Bieber, Black Eyed Peas, Rihanna, Katy Perry (…) são quem “mandam” no momento. Mas quem, afinal, estão fazendo os melhores discos ultimamente?

2010 é sintomático nisto: 5 dinossauros produziram obras belíssimas. Roky Ericksson & Okkervil River entregaram o testamento “True Love Cost Out All Evil”. Gill Scott-Heron também saiu do hiato com o irônico “I’m New Here”. Bryan Ferry, o cara da foto aí acima, juntou os amigos e nos deu “Olympia”. Robert Plant veio com seu “Band Of Joy”. Paul Weller, mantendo um nível altíssimo há muito tempo, mandou “Wake Up The Nation”. De décadas mais recentes Mike Patton concebeu “Mondo Cane”. Sem falar em Bruce Springsteen, Neil Diamond, Grinderman, Neil Young, Eloy, Univers Zero, etc.

O top 10 do ano pode ser povoado, com absoluta justiça, apenas com artistas surgidos até a década de 80. Isso deve significar algo, certo? Talvez apenas que estamos num ano que, por coincidência, viu vários retornos acertados de gente com talento muito acima da média. Da turma de 2000 pra cá, apenas Arcade Fire, Spoon, Labirinto, Orphaned Land, Rolo Tomassi e These New Puritans me impressionaram. Ainda preciso ouvir  vários lançamentos, é verdade. Outros simplesmente achei fraquíssimos, como Yearsayer, Interpol, Vampire Weekend, LCD Soundsystem, MGMT, Tame Impala ou apenas na média, caso de Black Rebel Motorcycle Club, Corinne Bailey Rae, Surfer Blood, Rufus Wainwright, Sade, Massive Attack, Joanna Newson, Cee-Lo Green. Tem uma listinha deles aqui.

E quem, na última década, tem bala pra realmente fazer frente aos medalhões citados aqui? Pouquíssima gente. Quando você afunila o negócio, não basta gente com talento e esforçada. Tem que ser único. E aí os dinossauros ainda dominam. Toda época tem música excelente e péssima sendo feita. Na música pop, quando quase tudo já foi feito, em 60 anos, sobra pouco pra quem ainda consegue se destacar.

O que realmente importa está escondido em bandas do underground, desconhecidas, acessíveis apenas para quem é quase melômano. Temos, afinal, aquilo que é possível ter. E o que merecemos.

Published in Destaques Mundo