Há algum motivo para American Hustle ter sido aclamado quase que unanimamente pela crítica americana (além dos decotes de Amy Adams, já um marco na cinematografia contemporânea e também de Jennifer Lawrence): típico até o talo, entrega o que o público dos Estados Unidos gosta tanto: roteiros baseados em operações do FBI, especialmente da década de 70/80. Podemos dizer que existe quase um sub-gênero inteiro baseado nessa premissa. E a recente aclamação de Argo é só o exemplo mais fresco, da temporada de prêmios passada.
O cast reunido para “Trapaça” explica boa parte do sucesso: Christian Bale, Bradley Cooper, Amy Adams, Jennifer Lawrence, Louis C.K, Jeremy Renner e Robert De Niro formam um baita time, dirigidos por um diretor que caiu em boa conta cedo demais, apesar do inegável talento. “American Hustle”, sobretudo, mostra a ambição precoce de David O. Russell, que dirigiu os bons e divertidos “The Fighter” (especialmente) e “Silver Linings Playbook”.
É difícil não simpatizar com a direção e os truques de Russell: é pop, vintage, escolhe um sem número de ótimas canções em todos os filmes. Aqui temos “Jeep’s Blues”, de Duke Ellington, usado como elo principal entre o casal de Bale-Adams, “Live And Let Die”, dos Wings, numa cena deliciosa de Jennifer, “How Can You Mend a Broken Heart”, dos Bee Gees, “White Rabbit”, do Jefferson Airplane e mais Elton John, Electric Light Orchestra e Dona Summer.
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Em suma, é o estilo de direção que costuma conquistar facilmente a maioria dos críticos, que parecem ver em referências pop uma espécie de selo de qualidade. Taí Cameron Crowe que, entre muito mais erros que acertos, conta com a simpatia de todos.
No entanto, falta algo em “American Hustle”. É divertido, é charmoso, é cheio de bons momentos mas, na polpa, a história não soa tão interessante assim, o desenrolar é modorrento, há pouco (ou nenhum) espaço para o desenvolvimento dos personagens, a identidade fica comprometida para além da caricatura.
O roteiro se perde em suas próprias armadilhas, jamais chegando a atingir o verdadeiro potencial, apostando em situações gratuitas e que pouco contribuem para a conclusão supostamente inesperada. Um filme razoável que nem o decote histórico e onipresente de Amy Adams conseguiu salvar.