A palavra “gênio”, não é de hoje, foi banalizada. Qualquer um é considerado “gênio”, mesmo os medíocres bem relacionados, ou especialmente esses. Mas no caso de Leon Hirszman, não. “Gênio” não faz jus à obra de Hirszman, descendente de poloneses que fez do Rio de Janeiro e do Brasil a matéria-prima de um cinema político, sim, engajado, sim, mas sobretudo popular e brilhante.
Pra mim, Hirszman é o maior cineasta que o Brasil já teve. Em que pese a figura intransponível de Nelson Pereira dos Santos, mestre do próprio Hirszman, é o diretor de “São Bernardo”, “A Falecida”, “Eles Não Usam Black-Tie” e “ABC da Greve”, além de vários curtas absolutamente sensacionais, que ocupa o posto mais alto do (ótimo) cinema brasileiro.
Mas esse papo de “melhor” é coisa de crítico. O importante mesmo é que boa parte da filmografia de Hirszman está disponível gratuitamente no You Tube. É de 5 anos pra cá que muita gente começou a subir no You Tube filmes brasileiros completos. Hoje, felizmente, é fácil encontrar online obras raras, perdidas no ralo sem fim de burocracia e descaso. É fácil poder assistir a muito do que formou o melhor que esse país já produziu, que antes era restrito a pouquíssimos festivais, a um circuito fechado, limitado e muitas vezes elitista.
Além de Hirszman, tem quase tudo de Joaquim Pedro de Andrade online, de Ruy Guerra, do já citado Nelson, de Ozualdo Candeias, Júlio Bressane, Glauber Rocha e de tantos outros. O You Tube virou a melhor ferramenta de divulgação do cinema brasileiro. Em um momento que o governo brasileiro entregou a Cinemateca de prêmio para a fascistinha da Regina Duarte e logo em seguida propôs simplesmente ACABAR com a instituição, responsável pelo acervo do cinema nacional e uma das mais importantes do mundo, é fundamental que o cinema brasileiro seja mais e mais conhecido, assistido, comentado, espalhado.
A seguir, listo tudo o que encontrei de Leon Hirzsman no You Tube. Destaco as obras já citadas, mas também os curtas “Pedreira de São Diogo”, parte de “Cinco Vezes Favela”, as incursões inestimáveis pelo samba de partido alto com Candeia e Paulinho da Viola e o curta sobre Nelson Cavaquinho, além de “Maioria Absoluta”, um retrato sobre como o analfabetismo é usado como instrumento político e os “Cantos de Trabalho”, um resgate histórico sobre a resistência popular no interior da Bahia e do Nordeste que já estava se perdendo nos anos 70.
Também coloco o documentário de Eduardo Escorel sobre a obra de Hirzsman, um ótimo apanhado geral sobre esse monstro do nosso cinema.
Hirszman, que morreu brutalmente cedo, aos 49 anos, deixou uma obra pluralíssima, gigante e totalmente consciente do que queria fazer. Poucos, raros, foram tão artisticamente bem sucedidos como ele. Um dos fundadores do CPC – Centro Popular de Cultura, Hirszman foi amigo e parceiro de Augusto Boal, Gianfrancesco Guarnieri, Oduvaldo Viana Filho e Nise de Silveira, entre tantos. Outro patamar de consciência humana e política.
Assistir a Leon Hirszman, que deveria ser exibido e estudado nas escolas, é uma das melhores coisas que você pode fazer por você mesmo enquanto cidadão desse país desigual de canalhas sádicos, mas que também é capaz de produzir, vez ou outra, um Leon Hirzsman.
Cantos do Trabalho
Somente Trechos
Não estão no YouTube: Que País é Esse; Rio, Carnaval da Vida; A Vingança dos 12; Sexta-Feira da Paixão, Sábado de Aleluia; A Mais-Valia Vai Acabar, Seu Edgar.