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Romulo Fróes – No Chão Sem O Chão

Samba cortante de experimentalismo contido. Pop, jazz, rock na paleta. Destilado forte que desce pela garganta. Letras construídas com precisão. Assim é “No Chão Sem O Chão”, bolachona dupla de 33 faixas (alguma referência religiosa aqui? talvez). Já se falou por aí e assino embaixo: o lançamento mais ousado do ano no Brasil. Artista que tenta ir além do esqueminha prático e seguro dos “indie’s”. Romulo quer mais, muito mais.

E a ousadia tem seu preço: não dá para deixar de pensar que se o álbum fosse (heresia) simples, no sentido de conter apenas um disco, teríamos uma seleção de faixas dignas de representar uma obra-prima irrepreensível: “A Anti Musa”, “Para Quem Me Quer Assim”, “Minha Casa”, “Qualquer Coisa em Você Mulher”, “Pierrô Lunático”, “Amor Antigo”, “Para Fazer Sucesso”, “Ela Me Quer Bem”, “Manda Chamar”, “Dia Tão Cinzento”, “Se Eu For”, “Pedrada”, “Uva de Caminhão”, “Saiba Ficar Quieto”.  Um bom exercício é tentar ouvir a seleção acima na sequencia e ter ideia da força que possui.

Mas, explicitamente ou não, “No Chão Sem O Chão” é um disco conceitual. Dividido, claro, em duas partes: “Cala Boca Já Morreu” e “Saiba Ficar Quieto”. E discos conceituais costumam ser naturalmente irregulares, pretensiosos, megalomaníacos, enigmáticos.

O importante é que Romulo conseguiu produzir um álbum de samba (essencialmente) que ao mesmo tempo em que dialoga com a tradição do estilo, cai numa verve vanguardista natural, gostosa, bem feita. Algumas canções são claudicantes, musical e liricamente.

Romulo é exigente: são duas horas da sua vida que ele pede. E que valem muito a pena.

Experimente aqui e aqui.

Published in Destaques Reviews de Cds