Ao mesmo tempo em que é consistente, com bons ganchos e riffs, de um grupo que pode ser considerado a melhor banda de rock britânico do mainstream da última década, “AM” também é uma fábrica de kibes. “Arabella” é o mais óbvio, chupinhando “War Pigs” do Black Sabbath na caruda. “Mad Sounds”, até no nome, soa como um lado Z perdido dos Beach Boys (obviamente turbinado). “No. 1 Party Anthem” é outra balada esquecível, feita no automático.
Aí você pergunta quem não vem emulando Sabbath e tantas outras bandas “clássicas”, nesta geração. A mesma pergunta que fiz no texto do Franz Ferdinand, vale para o Arctic Monkeys. São as duas bandas ícones dessa época, com inspirações diferentes, competentes em copiar, em criar canções para as pistas e arenas médias, seja no “rock-pop-stoner-polido” do Arctic, seja na new wave do Franz.
E se o miolo do disco é fraco – “I Want It All” e “Fireside” também não ajudam muito – os pontos altos de “AM” são realmente altos. “Do I Wanna Know?”, que abre o trabalho, é candidata a nova queridinha do repertório, com justiça. “Arabella”, “Why’d You Only Call Me When You’re High?”, “Snap Out Of It” e “Knee Socks” valem a experiência. Alex Turner/Josh Homme produziram uma formulinha eficaz aqui: basta observar os timbres, melodias e especialmente o uso da “pausa e retomada”, o cuidado no silêncio, em deixar a música respirar, o baixo aparecer, em alinhar texturas com o vocal chapante de Turner. Já é mais do que 90% das bandas conseguem fazer.
A NME, sempre ela, além de dar nota 10 para esse disco, produziu um dos textos mais exagerados da história da crítica musical.
“Arctic Monkeys’ fifth record is absolutely and unarguably the most incredible album of their career. It might also be the greatest record of the last decade. It’s not, however, the work of a band operating at their absolute peak – that’s yet to come. It’s the work of a band still growing, still fine-tuning, still learning and still experimenting; a band who will not look back on this record as a career high, but as the moment they stopped being defined by genre and instead became artists. Not a rock band, definitely not an indie band, but artists. Think Bowie, think The Beatles, think Stevie Wonder and think Bob Dylan. From this point on, Arctic Monkeys can do whatever they want, sound however they like, and always be Arctic Monkeys”, afirma Mike Williams.
Diante de tamanho frisson que parece se abater sobre a crítica lá fora ou aqui diante de qualquer bom lançamento de bandas “queridas”, ainda assusta a necessidade de sempre lembrar: calma, menos, segura, take it easy, brothers. É nítido que o Arctic Monkeys conseguiu superar, e muito, uma estreia celebrada como a nova salvação do rock e cresceram como músicos, como gente, trazendo experiências mais sombrias, mais trabalhadas e refinadas para dentro da sua carreira. É rock gostoso de se ouvir, que honra – e emula bem – suas tradições. Mas um pouco de moderação ainda é bem necessária.
httpv://www.youtube.com/watch?v=cTTej-GhUws
O aguardado AM, novo trabalho da banda inglesa Arctic Monkeys é mais um sintoma de uma nítida alteração musical, se afastando cada vez mais dos trabalhos do início de carreira, como Whatever people say I am, That’s what I’m not (2006) e Favourite worst nightmare (2007).
Após o ótimo Suck it and see (2011), a banda manteve as guitarras e os timbres, porém agora com outra finalidade: fazer o ouvinte se mexer. Disco feito para a noite, com ótimos rocks dançantes. Why’d you only call me when you’re high?, One for the road e Snap out of it são bons exemplos desta proposta. O grupo continua acertando a mão nas baladas, vide a bela I wanna be yours que encerra o álbum e a sessentista Mad sounds, com participação de Pete Thomas (baterista de Elvis Costello).
Também aparecem no projeto o já “arroz de festa” Josh Homme (Queens of the Stone Age) e o guitarrista Billy Rider-Jones. O grande destaque é “Arabella”, com seu início insinuante e final arrebatador. Nem a ciência conseguiria explicar tamanha evolução destes macacos.