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Extol: tentando se reencontrar como power trio

Os noruegueses do Extol foram uma das melhores bandas do chamado “death metal técnico” que se tem notícia. “Burial”, “Undeceived” e “Synergy”, lançados entre 98 e 2003, são obras fantásticas, repletas de detalhes e variações de uma banda com talento acima da média. “The Blueprint Dives”, de 2005, marcou a mudança de formação, perdendo a dupla de guitarristas – Ole Borud e Christer Espevoll – e apostando num som muito mais “moderno”, descaracterizando o trabalho até ali. Assinando com a Century Media, os planos eram de entrar forte no mercado dos Estados Unidos.

Na época, conduzi uma longa entrevista com o baixista John Robert Mjaland, que foi publicada no Whiplash! e na Roadie Crew, que você pode ler aqui. Eu fui cruel com o disco: dei nota 5 para The Blueprint Dives. Não me conformava em ver uma banda tão boa e com características tão próprias dar uma guinada que a colocava entre centenas de outras tentando fazer coisa parecida. No fim, o disco foi mesmo um fracasso relativo, causando a dissolução do grupo.

8 anos após o seu lançamento o Extol busca um recomeço com o novo álbum, auto-intitulado. Agora como power trio, Ole Borud está de volta junto com Peter Espevoll no vocal e David Husvik na bateria, três integrantes que fundaram a banda.

Extol

É disso que “Extol” trata: uma tentativa de deixar as coisas mais claras, de voltar ao “básico” – no máximo que o termo pode ser usado no caso deles – de eliminar os problemas do passado e focar somente em música. Trabalhando com o produtor Jens Bogren, um dos melhores e mais requisitados do metal escandinavo e do death com referências progressivas em geral, que já atuou com bandas como Katatonia, Opeth, Pain of Salvation, Soilwork, Leprous, Bela’kor e tantas outras, algumas guardando semelhança com o Extol, o disco ainda é meio cambaleante na sua volta ao rumo.

“Unveiling the Obscure”, “Faltering Moves” e “Betrayal”, por exemplo, misturam a pegada death-thrash com uma ou outro acento mais prog, entre vocais guturais, rasgados e limpos, quebras instrumentais, backing vocals e riffs e solos mais ou menos inspirados. “A Gift Beyond Human Reach”, do vídeo abaixo, é mesmo uma das melhores da obra e serve de resumo do disco.

httpv://www.youtube.com/watch?v=01qiEmrZTKw

Com quase 20 anos de história, o Extol busca se reinventar para permanecer relevante numa cena cada vez mais pulverizada. Se longe da primazia dos primeiros álbuns, este trabalho é um bom recomeço para tanto.

Jornalista investigativo, crítico e escritor. Publico sobre música e cultura desde 2003. Fundei a Movin' Up em 2008. Escrevi 3 livros de contos, crônicas e poemas. Venci o Prêmio de Excelência Jornalística (2019) da Sociedade Interamericana de Imprensa na categoria “Opinião” com ensaio sobre Roger Waters e o "duplipensar brasileiro" na Movin' Up.

Published in Reviews de Cds