O novo “projeto” de Marcelo Camelo e Mallu Magalhães (+ Fred Ferreira), chega abraçando o pop fofinho, daquele que nos deixa quase com pena de exigir demais.
Como criticar a dicção propositadamente manhosa de Mallu numa base de surf music e um clip que celebra o passinho do romano?
httpv://www.youtube.com/watch?v=61jSSF3Vu54
Eu só espero que não venha mais ninguém
Aí eu tenho você só pra mim
Roubo o teu sono
Quero o teu tudo
Se mais alguém vier não vou notar
Preciso de você
Pra me fazer feliz
É de uma fofura palpável. Desde que Camelo e Mallu assumiram o romance – quando ela ainda tinha 16 anos – a carreira dos dois naturalmente convergiu. Não que Mallu tenha evoluído muito em “Pitanga”, de 2011, sensível melhora da garota responsável por “Tchubaruba”. Não dá para esperar muito de quem não tem o que oferecer, mas é de se imaginar o impacto e a influência enorme que um homem razoavelmente maduro, letrado e com algum repertório tem na vida de uma menina.
As tardes de sexo interminável, poesias e romances, risos, provocações, ciúmes, brigas, um mundo adulto infantilizado e um universo adolescente em desenvolvimento para algo além. Tudo muito bonito, natural, bacana. Daí que a Banda do Mar ainda dá sinais de paixonite juvenil, de ser uma trilha sonora de declarações mútuas musicadas, brincadeiras registradas em disco.
Quando funciona, caso do primeiro single e também de “Cidade Nova” e “Hey Nana” (franca candidata a melhor do trabalho e provável catarse em shows), não por acaso a trinca de abertura, é gostoso de se ouvir. Afinal, como não simpatizar com um amor pueril que remete a paisagens belas e acolhedoras, como não se sentir seduzido por essa inocência típica digna da paixão fresca? Bobagens verdadeiras, pieguice genuína. “Pode Ser”, por exemplo.
O problema é que é pouco: o álbum não evolui, não amadurece, não oferece outras paisagens, outros tons, não corre riscos, não flerta com a gostosa do lado, não troca mensagens privadas com outras pessoas, não coloca um pezinho na fragilidade do amor, no lado sombrio de tanta posse, tanta beleza.
“Faz Tempo”, “Dia Clarear”, “Muitos Chocolates”, “Seja Como For”, “Vamos Embora”….o disco inteiro é uma troca de declarações. “Faço questão de cafuné, massagem no pé e muitos chocolates só pra mim” ou “pode ser o que você quer, ou o que eu tenho pra te dar, uma vida inteira pra viver, ou um só segundo pra lembrar” ou “e lá vou eu, onda do mar, doce é viver nos olhos dela, do tempo eu sei, o tempo é rei, e eu naveguei nos olhos dela”. É tão bonito quanto cansativo. São aqueles poemas que fazemos na quinta série apaixonadinhos pela menina charmosa da carteira ao lado.
Sonoramente, o instrumental preguiçoso, calcado na surf music, sunshine pop, na bossa nova e na MPB tipicamente litorânea – um sub-gênero tão aleatório quando verdadeiro – não chega a lugar algum. É um disco que o público da Mallu irá adorar. Para Camelo, quem o acompanha desde sempre e com forte tendência ao fanatismo – o Los Hermanos talvez seja a banda brasileira com maior índice disso nos últimos 20 anos – continuará fanático. Para os mais exigentes, falta “sustância”. Falta um pouco de pimenta em tanta doçura, em todos os sentidos.
Para ambos, é bom para o negócio, como precisa ser.