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Radio Moscow: mantendo o nível em “Magical Dirt”

O stoner e o psychedelic rock, após a explosão nos anos 90 – Kyuss, Neurosis, Fu Manchu, Eletric Wizard, Sleep, Monster Magnet, Boris, Harvey Milk – continuou a gerar bons frutos na década passada através do trabalho de bandas como Ufomammut, Dead Meadow, Moss, entrando num balaio variado de rótulos que incluem o “sludge metal”, o “noise” e até o “post rock”, no melhor exemplo do Isis. Novos nomes como Belzebong, Samsara Blues Experiment, Kadavar, Red Fang e os americanos do Radio Moscow, uma das minhas preferidas, carregam essa herança.

Chegando ao quarto disco, é impressionante a solidez e qualidade de todos os trabalhos lançados por eles, conseguindo ficar acima da mediocridade tão comum no meio. O Radio Moscow sabe como poucos transformar a influência que gente como Blue Cheer, 13th Floor Elevators, Vanilla Fudge, Grateful Dead, Iron Butterfly, Black Sabbath, Hawkwind e MC5, entre outros, ajudaram a cimentar.

A banda consegue criar riffs pegajosos com uma facilidade incrível, a música tem peso e swing, algo que Jimi Hendrix ficaria orgulhoso de escutar. Sempre um triunfo para um power trio de branquelos. A abertura com “So Alone” já deixa essa qualidade evidenciada. Quantas bandas, hoje, conseguem produzir uma faixa dessas? Pouquíssimas.

httpv://www.youtube.com/watch?v=gBGhw1fdOCA

“Bridges” e sua mini jam psicodélica é ótimo resumo da pegada aqui, assim como a deliciosa “Before It Burns” e seus quatro minutos e meio de pura distorção climática, wah-wah’s e trips diversas. “Stinging” e sua pegada “acústica” , digna do blues de Chicago, na verdade, evidencia o trabalho brilhante do vocalista Parker Griggs.

Como na maioria das bandas que se destacam nesta seara de barbas, caras feias e a pegada retro-vintage no talo, o Radio Moscow tem o que realmente importa: domínio de tempo. Um instrumento não atropela o outro, a cozinha (baixo e bateria) é sólida e conversa muitíssimo bem com a guitarra e o vocal. Mesmo a nem tão boa “Death Of A Queen” é exemplo perfeito disso, ao passo que “Sweet Little Thing” é quando o Black Sabbath de Vol. 4 encontra Junior Wells. Os profundos traços de blues, aliás, destacam bastante o que produzem das outras bandas do gênero.

Em suma, as 10 faixas de “Magical Dirt” são uma aula de rock pesado e psicodélico, usando muito bem o caldeirão de influências citadas aqui para gerar um resultado único e extremamente bem feito dentro do estilo buscado. Na verdade, o Radio Moscow é uma das melhores bandas no mundo, hoje.

Jornalista investigativo, crítico e escritor. Publico sobre música e cultura desde 2003. Fundei a Movin' Up em 2008. Escrevi 3 livros de contos, crônicas e poemas. Venci o Prêmio de Excelência Jornalística (2019) da Sociedade Interamericana de Imprensa na categoria “Opinião” com ensaio sobre Roger Waters e o "duplipensar brasileiro" na Movin' Up.

Published in Destaques Reviews de Cds