Da interminável listas de bandas instrumentais brasileiras surgidas na safra 2006-2008 – são tantas que é até difícil contar – o Dibigode, de Belo Horizonte, sem dúvida sempre foi uma das melhores. A formação ainda enxuta, com duas guitarras (Vicente França e Gabriel Perpétuo), a bateria de Tiago Eiras, o saxofone e a flauta de Guilherme Peluci e o baixo de Antônio Vinícius entrega uma sonoridade riquíssima, repleta de texturas, timbres e harmonias inusitadas, ricas e bem trabalhadas, fundindo várias vertentes do rock e jazz com samba e outros temperos.
Encarar o desafio de colocar essa fusão no universo da obra de Ataulfo Alves, um dos melhores e mais célebres sambistas da história desse país, portanto, é coisa para poucos. E você pode ver e ouvir o resultado no clip de “Laranja Madura”, que abre a bolacha (na realidade um lançamento em formato de pen-drive cartão, diferente do habitual):
httpv://www.youtube.com/watch?v=rmGm69ql6Bg
As credenciais não se encerram por aí. Os 8 minutos de “Tempos de Criança” são outro ponto alto, flertando com o math-rock dos melhores dias do Battles e 65daysofstatic, por exemplo. Coisa fina. O trio final com “Ai Que Saudades da Amélia” e seu início country rock (sim!) descamba no melhor samba torto e experimental que você vai ouvir esse ano. “Cadência do Samba”, esse cânone da música popular brasileira, cresce ainda mais na mão do quinteto, encerrando brilhantemente com “Você Passa Eu Acho Graça”.
Original e audacioso, “Garnizé” é fruto de um projeto interessantíssimo, com resultado acima do esperado. A banda faz show de lançamento hoje no Rio de Janeiro e depois passa por Belo Horizonte, Juiz de Fora, Uberlândia, Salvador e São Paulo. Boa oportunidade para conferir um tipo de som que é ainda mais suculento ao vivo.