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Di Melo e Jards Macalé no Conexão Vivo

Fotos: Divulgação

Sabe quem é esse hômi aí em cima? Deveria. Ao contrário de ícones da soul music brasileira como Cassiano, Tim Maia, Gerson King Combo e Banda Black Rio, o pernambucano Di Melo gravou um único disco em 1975 pela EMI/ODEON, contando com a colaboração de feras como Hermeto Paschoal, despejou um punhado de clássicos no mercado e praticamente desapareceu na amargura do showbizz, seguiu compondo e se apresentando solo ou com outros artistas mundo afora durante 35 anos até retornar de verdade ano passado.

Figura folclórica, de sotaque, carisma e força irresistível, Di Melo sabe usar a palavra tanto nas ótimas músicas quanto no discurso que faz entre uma faixa e outra, quase numa língua própria. Com um filme no prelo e mais de 400 novas músicas acumuladas, prontas para serem gravadas, Di Melo torna possível utilizar a palavra “gênio” sem banalizar.

Participando dentro do show da genérica Black Sonora, Di Melo toma conta do ambiente e enfileira pepitas para delírio geral: “Kilário” é o clássico maior, sinta o porquê:

httpv://www.youtube.com/watch?v=FPxNT2JbtFo&NR=1

E com o parque municipal transformado num autêntico baile black setentista – ou quase isso – temos o privilégio de ouvir “Pernalonga”, “A Vida em Seus Métodos Diz Calma” e a irresistível-delícia-tesão “Se o Mundo Acabasse em Mel”. Fica aí, não vai embora não. E o bis de “Kilário” fechou o histórico show de Di Melo em BH.

Já Jards Macalé, saído da classe anos 60 da música brasileira, se manteve lançando discos esporádicos e fazendo um milhão de coisas estes anos todos, botando sua irreverência, criatividade e pseudo-loucura a favor da arte, seja em disco, como ator ou o diabo. E Macalé também “conversa” com a atual geração da música brasileira, como na participação que fez no disco do Numismata (reinterpretando “Mal Secreto” em Brazilians On The Moon, de 2004).

O documentário “Um Morcego na Porta Principal”, de Marco Abujamra e João Pimentel, lançado em 2008, mostrou as diversas fases e facetas de Macalé, numa enxurrada de documentários musicais que reverberam até hoje com o próprio do Di Melo, a ser lançado. Junto com o Graveola e o Lixo Polifônico, que vem tendo boa recepção de público com sua “latinidade mutante tropicalista” – que ainda necessita de bastante tempero próprio – Macalé encaixou seus sambas tortos, sua polifonia rítmica e invenções melódicas, tendo o ápice em “Let’s Play That”, fruto do álbum homônimo de 1994.

Com o tempo esgotado, Macalé se despediu precocemente, deixando o público irritado, que reagiu com vaias para a produção pedindo bis. No mesmo dia de Conexão, o Senta a Pua! mandou um belo instrumental ali entre o chorinho, a gafieira e toda essa escola, Renegado gravou seu DVD e a festa de encerramento no Music Hall contou com a trupe toda, incluindo a adição de Gustavo Maguá, Edu Krieger e Hyldon. Desfecho bonito para um projeto que reafirma ano a ano – com muito mais acertos que falhas – sua importância no cenário cultural de Belo Horizonte e também por onde passa. Quem conferiu, pode atestar.

Jornalista investigativo, crítico e escritor. Publico sobre música e cultura desde 2003. Fundei a Movin' Up em 2008. Escrevi 3 livros de contos, crônicas e poemas. Venci o Prêmio de Excelência Jornalística (2019) da Sociedade Interamericana de Imprensa na categoria “Opinião” com ensaio sobre Roger Waters e o "duplipensar brasileiro" na Movin' Up.

Published in Destaques Reviews de Shows