Já não se pode mais esculhambar as afetações de Axl Rose e seu “Chinese Democracy”. Ou pode, dependendo das suas inclinações. O álbum mais folclórico, esperado, sacaneado, mitológico dos últimos anos finalmente será lançado em 23 de novembro. Após 56.254.000 vezes que o prazo foi dado e descumprido, 14 anos após o “fim” do Guns N’ Roses, o calejado disquinho está disponível na íntegra para ser ouvido no MySpace.
Na verdade, o CD já circula pela internet pelo menos desde 2001. Faixas como “Riad N’ The Bedouins”, “Madagascar” e “IRS” estão até caducas na mente dos fãs. O Guns N’ Roses pode parecer mais uma piada hoje em dia do que uma banda de verdade. As dezenas de integrantes que passaram pelo grupo, os chiliques e o visual de bookmaker de Axl, enfim. Motivos para os ridicularizar existem muitos.
Mas foram, lááá naqueles tempos remotos (final da década de 80/início de 90), a maior banda de hard rock do mundo. E, não esqueçamos, produziram uma das melhores estréias de uma banda em todos os tempos, o excelente “Appetitte For Destruction”.
O novo recicla tudo aquilo que Axl já andou experimentando nestes anos “meio na ativa, meio aposentado”: rock muderno, pitadelas eletrônicas, timbres graves e sujos e toneladas de distorções esquisitas. Em estúdio sua voz até engana às vezes, mas ao vivo a coisa é diferente. “Chinese Democracy” estaria melhor sintonizado se estivéssemos há 10 atrás. Revela na verdade a época em que foi produzido. Tentando “revitalizar” e “modernizar” seu som, Axl acerta pouco e erra muito. No geral, deixa aquela sensação estranha na boca. “If The World”, por exemplo, é Axl brincando de trip-hop. “Street Of Dreams” é uma balada tão clichê e sem graça quanto seu título. “There Was A Time” começa brega, e não evolui muito.
A faixa título desce bem e “Better” é até bacana. Mas durante suas 14 faixas, “Chinese Democracy” joga pra todo lado sem muito sucesso…sendo a colcha de retalhos que na verdade é. Óbvio que vai vender igual água e a turma vai lucrar mais alguns milhões. Se vierem pro Brasil, o que não é difícil, lotam estádios facilmente.
Estamos sempre (no mínimo), atrasados uns 10 anos em relação ao mundo. O Guns, atualmente, atrai mais pelo mito que pela música em si. Ou pela curiosidade de ver um ícone do rock se deteriorando. O álbum não é péssimo, longe disso. Mas faz parte daquele tipo que você ouve no máximo duas vezes e nunca mais toca.
A menos que você seja fã. Mas fã é uma brincadeira, uma aberração. Não conta. De todo jeito, ouça, mate a curiosidade. E não tenha vergonha se gostar.
Avaliação: **1/2
Em tempo…
Dr. Pepper havia prometido refrigerante de graça para todos os estadunidenses, caso o álbum saísse…