É curiosa a trajetória de M.I.A. no pop mundial: artista plástica londrina (que cresceu no Sri Lanka e mora em NY), fez um bom barulho com os dois primeiros álbuns: “Arular” (nome do pai) em 2005 e “Kala” (nome da mãe) em 2007. Indicada ao Grammy e até ao Oscar, considerada uma das mais artistas mais influentes do século XXI por algumas revistas, sua mistura inflamável de hip-hop, eletrônico, pop, dance, funk, punk, worldmusic, política e moda foi recebida com entusiasmo.
“Maya” – seu próprio nome – o terceiro disco, chegou causando “polêmica” com o violento vídeo de “Born Free”. Na verdade, um curta-metragem dirigido pelo filho de Costa Gravas:
“Born Free” escancara de forma corajosa o aspecto político, adicionando toneladas de ácido no terreno plástico do pop. É uma alegoria nada sutil feita pra chocar, totalmente imersa no que acontece no mundo atualmente e bem, no que vem acontecendo por aí em inúmeros exemplos – há muito tempo. André Forastieri e Alexandre Matias falaram bem sobre o impacto de “Born Free”.
Se parte resultado disso ou não, fato é que “Maya” alcançou os melhores resultados comerciais de M.I.A até agora, ficando nas melhores posições da moça até hoje na Inglaterra, Estados Unidos, Finlândia, Noruega, Grécia e Canadá. “Riot pop” também pode vender bem, afinal.
Musicalmente, o disco aposta mais fortemente nos aspectos eletrônicos, criando uma parede sonora de efeitos por vezes incômoda e exagerada. Sai a música asiática, africana, o swing e o equilíbrio, entra a massa industrial de beats, samplers e congêneres. E dá-lhe voz distorcida. M.I.A sabe o que faz, mas o saldo é infeliz. A abertura com “Steppin Up” já dá o tom. “XXXO”, ao contrário, é um baita pop. A mais bobinha e descartável do disco, dessas letras pastiches sobre sexo e “relações” do hip-hop. “Space” é sonolenta e derivativa.
“Tell Me Why” retoma a política, além de ser uma boa faixa no meio de tantos deslizes. Faixas poderosas – por motivos diversos – como “Meds And Feds”, “It Takes a Muscle”, “Lovalot” se misturam com bobagens como “Teqkilla”, “It Iz What It Iz” e “Caps Lock”.
“Maya” é isso: irregular e repleto de escolhas erradas. Mesmo as boas composições muitas vezes naufragam pela musicalidade repetitiva, conseguindo fugir disso poucas vezes. M.I.A tem méritos por trazer a política para o seio do pop, mas também sabe perfeitamente que botões apertar pra conseguir o que quer. Ainda melhor que a média, mas abaixo do que já fez.