Os australianos do Tame Impala sempre me pareceram aquela banda que chegou rápido demais ao mainstream da cultura indie – por mais contraditório que isso soe, você sabe exatamente do que estou falando. A “nova banda favorita de todo mundo” que, pelos comentários, transformava cada single em um acontecimento. Figuravam na playlist do freak mais fuçador e daquela mina gata do ~insta~ nas fotos de piscina de condomínio.
“Sucesso” que eu não conseguia encontrar o motivo ao ouvir os dois álbuns anteriores: “Innerspeaker” e “Lonerism”. Parecia-me tudo óbvio demais, clichê demais, estilismo trabalhado mal e porcamente de uma herança – psicodelia? synthpop? – feita muito antes por gente muito mais talentosa e mais madura. Tem bandas que, para o seu “olhar crítico” ou mesmo para os seus “critérios de diversão”, você não consegue se conectar, mas entende por que atinge certo público. Com o Tame Impala, até isso era meio nebuloso. As pessoas se contentavam com tão pouco ou só você que é mala demais?
Eu sou extremamente mala e quem lê as coisas que publico deve saber bem disso. Daí que fui ouvir “Currents” com zero expectativa e aquela inevitável preguiça que me atacava sempre que ouvia o nome da banda. E é justamente ao abraçar o kitsch mais escancarado, as referências mais óbvias, o verniz de nostalgia mais flagrante, que o Tame Impala produz seu melhor trabalho.
httpv://www.youtube.com/watch?v=c09FGUaM4P8
A música contemporânea é toda sobre clichês. O rock é um grande clichê. O pop é um clichezão criado por golpistas bem focados em dinheiro fácil e música para grande consumo. Até no auge, quando chega ao seu melhor, não dá para fugir disso. E aí que a molecada do Tame Impala acerta: os quase 8 minutos da abertura de “Let It Happen” é um ótimo resumo. Synthpop de timbres e escolhas tipicamente oitentistas, exalando naftalina, como se um encontro entre Vangelis, Eurythmics, Pet Shop Boys, Human League e Tears For Fears fosse considerado extremamente cool em 2015 e, ao invés de tocar em churrascarias e em guetos bem específicos de clubes por aí, fosse saudado pela juventude hipster como o som a ser ouvido nos parques das grandes cidades do mundo durante o verão. Tudo com o conceito visual elaborado pelo Hans Donner.
Talvez seja. Talvez essa releitura “pós-moderna” – termo útil e que talvez tenha nascido ultrapassado, assim como a banda – funcione bem. E funciona em “Yes, I’m Changing” e na ganchuda “The Less I Know The Better”. É ao ser menos pretensioso e menos “rock”, mais cafajeste e comercial, mais datado, que o Impala entrega algumas das melhores composições pop do ano.
Longe de ser brilhante, no entanto (“Past Life” e “Disciple” soam como sobras de estúdio do Sigue Sigue Sputnik, A-ha ou Erasure), a banda produz um registro sólido mesmo assim (“Cause I’m a Man” é um destaque).
A impressão é que Kevin Parker é melhor emulador dessa turma – aproximando-se mais do “indietronica” de gente como Caribou, às vezes – do que daqueles que tentava emular antes, mais orientados para a guitarra. Não figura de jeito algum entre os melhores do ano, porém entrega um pacote de pop kitsch bom o suficiente para merecer atenção.