31 discos em 10 anos. 16 de estúdio (!), 4 ao vivo e 11 EP’s. Entre material inédito, experimentações, colaborações, splits e o diabo. Ty Segall, 29 anos, californiano de Palo Alto (radicado em São Francisco), é um cara que trabalha. Muito. Indo fundo no garage rock, no punk, no noise e no psicodélico, sua obra é naturalmente irregular para quem produz tanto em tão pouco tempo e nem chegou aos 30. Destacam-se nessa história “Melted”, de 2010 e o ambicioso “Manipulator”, de 2014, dos melhores discos daquele ano.
Eis que o novo álbum, autointitulado, é muito mais conciso que “Manipulator” e muito mais inspirado que o anterior, “Emotional Mugger”, do ano passado. Da abertura com “Break a Guitar” passando pelos 10 minutos da ótima “Warm Hands (Freedom Returned)”, mesclando noise intenso com estrutura inteligente, pausas e retomadas, uma noção de silêncio e cadência bem importante para que tudo não vire uma coisa só, Segall mostra logo no início que esse disco não está no automático.
Se é difícil se manter “criativo” e relevante para quem já entregou horas e horas de material bebendo nas mesmas fontes, os 36 minutos desse álbum provam, no entanto, que pouca gente faz tão bem o que Segall se propõe, hoje. Definido malandramente pelo comparsa Marcelo Santiago como uma espécie de “Iggy Pop da geração instagram”, é toda essa herança ~stoogeana~ e de proto-punk que vai pro palco, mas também doses cavalares da herança psicodélica de São Francisco, de Neil Young e Grateful Dead (“Talkin'” e “Orange Colour Queen” são bons exemplos nesse álbum), T.Rex, MC5, Syd Barrett, Big Star, Stones, Kinks (“Thank You Mr. K.”) e cia ltda até um lo-fi em alguns momentos (cheirinho de Pavement em “Papers”).
“The Only One” poderia perfeitamente figurar em qualquer disco do MC5, e tome fuzz, reverb, tome distorção em riffs gordurosos e solos aparentemente caóticos (mas na verdade muitíssimo bem colocados) e tome músicas que fazem um apanhado das ambições e influências desse cidadão viciado em compor. É uma pegada que está em voga, é verdade, mas que nunca saiu do radar alternativo. O que fica é que essa série de canções servem não só como boa introdução ao catálogo vasto, confuso e destoante de Segall para quem está chegando nele agora, como um disco que, além de bom, tem alto “fator replay”, algo sempre difícil de alcançar e que sem dúvida não estava presente mesmo em suas bolachas mais bem acabadas. Tá na hora de um show no Brasil.